Autarca de São Brás de Alportel teme incêndio incontrolável

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Fogos avassaladores fustigaram o Algarve e a Madeira Nuno Loureiro

As chamas que lavram desde quarta-feira em Tavira alastraram ao concelho vizinho de São Brás de Alportel, onde muitos habitantes se queixam de quase não verem bombeiros no terreno. O presidente da Câmara, José António Eusébio, teme que a situação se torne “verdadeiramente incontrolável”.

A Polícia Judiciária já fez saber no final da tarde de sexta-feira que as investigações sobre as causas do incêndio na Serra do Caldeirão foram reforçadas com elementos do Laboratório de Polícia Científica, oriundos de Lisboa, revelou à Lusa fonte policial.

De acordo com a mesma fonte, desde a deflagração do incêndio, na quarta-feira, em Tavira, que a Directoria do Sul da PJ “tem permanentemente inspectores e especialistas em incêndios a acompanhar a situação e a investigar as causas”. “Temos ideias já bastante claras do que aconteceu”, afirmou a fonte, escusando-se para já a avançar pormenores, uma vez que continuam as diligências no terreno.

“A frente compreendida entre os sítios de Javali e Perdizes é a que oferece maiores cuidados neste concelho, devido ao surgimento de novos focos e de reacendimentos. O autarca de São Brás de Alportel disse ao PÚBLICO que teme um agravamento da situação durante a tarde, com o aumento previsto da temperatura e a mudança na direcção do vento.

Por precaução, ao início da tarde, a população de Javali abandonou as casas e está apreensiva com o fogo que se avista a cerca de três quilómetros da povoação. Custódio Guerreiro, de 70 anos, mora em Javali com a mulher e está hoje à tarde nas redondezas da aldeia, no cimo de um monte, a observar uma das frentes do fogo, a três quilómetros. “As autoridades pediram-nos gentilmente para sair daqui porque estávamos em perigo”, disse o morador à Lusa, acrescentando que existem na população cerca de 10 casas.

“Se o fogo chegar à povoação de Cova da Muda, onde vivem cerca de duas dezenas de pessoas, rapidamente varre o concelho”, disse José António Eusébio, sublinhando que teme que o incêndio se torne “incontrolável”.

Ao final da manhã ainda não havia registo de casas em perigo, estando a arder apenas mato e sobreiros, apesar de as chamas estarem próximas das habitações Por precaução, os 47 utentes do Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul foram retirados. Ontem à noite, várias pessoas foram retiradas das suas casas também por precaução.

Os habitantes que falaram ao PÚBLICO queixaram-se da ausência de meios no concelho de São Brás de Alportel e muitos dizem mesmo que se o ataque tivesse sido reforçado ontem à noite, numa altura em que o vento amainou, o incêndio teria sido dominado na Cabeça do Velho, que fica na fronteira do concelho. Muitas pessoas estão a tentar apagar os pequenos focos de incêndio da forma que podem, com baldes, mangueiras, máquinas.

Num raio de cerca de 20 quilómetros, o PÚBLICO não encontrou mais do que quatro carros de bombeiros e, aqui e ali, um meio aéreo. O comando operacional está instalado no local onde deflagrou o fogo, em Cachopo, Tavira, e é a partir daí que são distribuídos os meios. Segundo a página da Internet da Autoridade Nacional da Protecção Civil, ao meio-dia estavam no terreno 633 operacionais, apoiados por quase 200 veículos, três helicópteros e seis aviões.

O presidente da junta de freguesia de Cachopo, Sidónio Brazão, disse à Lusa que 60% da freguesia desapareceu. “Ardeu a freguesia de uma ponta à outra”, disse.

Nesta zona, cerca de 200 pessoas estão sem eletricidade e a reposição da energia está a ser dificultada pelo corte das estradas. Segundo a porta-voz da EDP, Maria Antónia Fonseca, as queixas de falta de energia começaram a chegar cerca das 21h de quinta-feira, tendo a empresa enviado equipas de reparação para o local.

No entanto, a reposição de electricidade está a “ser difícil porque os bombeiros limitaram o acesso” às localidades, explicou a porta-voz da EDP à Lusa.

Os cortes de electricidade aconteceram em zonas rurais, na zona de Cachopo, na serra de Tavira.

Notícia actualizada às 18h18
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