Jeremy Irons quer ver a Lisboa histórica protegida

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Jeremy Irons garante que não está a pensar em reformar-se Miguel Manso

A rodar em Lisboa uma co-produção europeia, o filme "Comboio Nocturno para Lisboa", o actor Jeremy Irons alertou no domingo, em conferência de imprensa, para a necessidade de se preservar a zona histórica de Lisboa, que, no seu entender, constitui “uma verdadeira jóia”.

Alojado num palácio junto ao Castelo de S. Jorge, o britânico conhecido pelas personagens de moralidade dúbia que costuma interpretar afirmou-se chocado com os aglomerados de prédios nos arredores de Lisboa que viu nestes dias. “É uma pena”, declarou, elogiando, ao mesmo tempo, o potencial da cidade e do país. 

“Vocês têm de perceber aquilo que têm na Lisboa antiga”, disse,  acrescentando que o mesmo tipo de erros urbanísticos foram cometidos Europa fora. Jeremy Irons – um apaixonado por castelos antigos, tendo já comprado e reabilitado um destes monumentos – falava numa conferência em que estiveram presentes o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e os secretários de Estado do Turismo e da Cultura, respectivamente Cecília Meireles e Francisco José Viegas. Questionado sobre as advertências do actor, Francisco José Viegas disse ser da mesma opinião: “A valorização do património e da paisagem é uma das perspectivas da secretaria de Estado”, referiu, criticando o facto de “não se ter feito conservação preventiva durante os últimos anos”. 

Vestido de maneira informal, com botas e um casaco de capuz abotoado até acima, Irons foi recebido nos Paços do Concelho com a restante equipa do filme, incluindo o realizador dinamarquês Billie August. Apesar de não ter financiado parte do filme, ao contrário do que chegou a estar previsto, a autarquia cedeu o Palácio de Santa Catarina, na Bica, para sede dos trabalhos e local de filmagens. Orçado em 7,7 milhões de euros, conta a história de um professor de latim suiço cuja vida rotineira sofre uma reviravolta quando decide embarcar para Portugal após ter ido à estação entregar o casaco perdido de uma rapariga que salvara do suicídio. Num bolso do casaco há um livro de um escritor português, Amadeo de Prado, um médico anti-salazarista. 

August, que há duas décadas tinha estado no Alentejo a realizar A Casa dos Espíritos, também com Irons, descreve o filme, que se baseia num best-seller de Pascal Mercier, como um “thriller filosófico”: centra-se num homem que tenta dar um sentido à vida quando já tinha desistido dela. A Secretaria de Estado da Cultura contribuiu com 195 mil euros, enquanto o Turismo de Lisboa e o Turismo de Portugal com 250 mil. Num momento de austeridade, o país devia estar mais aberto a acolher a rodagem de produções estrangeiras, defendeu Irons, que espera poder regressar um dia a Portugal para mais filmagens. É que apesar dos seus 63 anos não pensa em deixar ecrãs e palcos tão cedo: “Não estou a pensar em reformar-me”.
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