JOHN KENNETH GALBRAITH 1908-2006

Economista, conselheiro de presidentes dos EUA, embaixador, John Kenneth Galbraith morreu
aos 97 anos

John Kenneth Galbraith será lembrado pela "pela sua compreensão da economia dos nossos tempos", disse ontem, Gordon Brown, ministro das Finanças britânico. Poderia acrescentar que Galbraith também será lembrado pela forma como tornou a economia compreensível para muitos.Professor em Harvard durante décadas, conselheiro de todos os presidentes democratas dos EUA de Roosevelt a Clinton, embaixador na Índia, escritor, Galbraith morreu sábado à noite, aos 97 anos, num hospital em Cambridge, no Estado norte-americano do Massachusetts, onde tinha sido internado há duas semanas.
Cidadão norte-americano desde 1937, John Kenneth Galbraith era canadiano de nascimento. Nasceu a 15 de Outubro de 1908, em Iona Station, na província de Ontário e licenciou-e na Universidade de Toronto. A sua tese valeu-lhe uma bolsa para a Universidade da Califórnia onde se doutorou e começou a dar aulas. Em 1934 começou a dar aulas na Universidade de Harvard. Entre 1939 e 1942 leccionou em Princeton, mas em 1948 regressou a Harvard, onde permaneceu até à sua reforma, em 1975. Isto à excepção dos anos em que esteve como embaixador na Índia (1961-63), cargo para o qual foi nomeado pelo Presidente Kennedy, de quem era amigo e conselheiro.
Antes já tinha desempenhado um cargo público que lhe granjeou numerosos inimigos ao chefiar, no início dos anos 40, o gabinete de controlo de preços. Gostava de lembrar que quando começou não havia preços controlados e que poucos depois tinha quase todos os preços sob controlo.
Fortemente influenciado por Keynes - gostava mesmo de se chamar a si próprio um "keynesiano evangélico" -, Galbraith defendeu até ao fim a intervenção governamental para resolver os problemas sociais e rejeitou a ideia de que as decisões de produção se baseiam na procura dos consumidores. Pelo contrário dizia que são os produtores que manipulam os consumidores para lhes imporem certos produtos e serviços de que não precisam. Essa cultura de consumo pode ser rica em bens, mas pobre em serviços sociais e de interesse público.
Para Galbraith, a economia norte-americana tinha enorme capacidade para gerar riqueza individual, mas não lidava da forma correcta com as necessidades públicas, como estradas e escolas. Isso mesmo explicava num dos seus livros mais conhecidos "The affluent society" (1958), defendendo que a produção devia ser reorientada para satisfazer as necessidades sociais. Muitos dos seus livros foram grandes sucessos de vendas e, já depois de se reformar de Harvard, fez uma série de programas na televisão britânica, chamada "A Idade da Incerteza", também transformada em livro.
Percursor da protecção do ambiente, activista contra a guerra do Vietname, Galbraith foi classificado por alguns economistas como um "sociólogo económico". O mais conhecido dos seus rivais - Milton Friedman, o grande teórico moderno da economia liberal - dizia mesmo que era mais um missionário do que um economista.
John Kenneth Galbraith participou durante perto de 70 anos no debate político norte-americano e aceitava mesmo aconselhar gratuitamente responsáveis políticos de outros países, mesmo sabendo que os seus conselhos eram muitas vezes ignorados. Os ensinamentos e o empenho de Galbraith durante toda a sua vida em favor de uma verdadeira democracia social estavam destinados a serem ignorados por uma sociedade americana individualista, assinalou em 2005 Bradford DeLong, autor de um livro sobre o economista.

Sugerir correcção