Especial de informação

Não se contesta a validade das intenções, mas de Ai Weiwei esperar-se-ia mais do que um resumo da crise dos refugiados em tom de reportagem global.

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Crise dos migrantes europeus
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Se tivéssemos de fazer um qualquer ranking dos documentários sobre a crise dos refugiados que temos visto ao longo dos últimos anos, o filme do artista chinês Ai Weiwei não seria o “lanterna vermelha”, mas dificilmente estaria no topo da lista. Ao colocar as coisas desta maneira, não pretendemos menorizar uma das maiores crises mundiais dos nossos dias — aliás, Refugiados também não o faz, ao apontar que nem nos tempos da Segunda Guerra Mundial tanta gente foi deslocada para fora do seu país e que o número de países com fronteiras fechadas subiu de 16 para 70 nos últimos 25 anos. Estamos, isso sim, a questionar um projecto cinematográfico de cujas intenções solidárias não duvidamos minimamente, mas cujo resultado final está muito longe de lhes corresponder.

Ainda por cima vindo de um artista que tem feito questão de se erguer em nome dos direitos civis e humanos, Refugiados é um filme bizarramente anónimo, sem ponto de vista nem argumento de defesa. Limita-se a colar, com maior ou menor arte, uma sequência de cenas filmadas em campos de refugiados de todo o mundo, da Jordânia à Grécia, do México à Turquia, da França ao Iraque, sublinhando a dimensão global da crise e a vergonha de um Ocidente que já só parece querer ver a situação pelas costas (significativos dessa hipocrisia são o pequeno clip na fronteira húngara e a referência ao acordo entre a União Europeia e a Turquia). Mas, como provaram Francesco Rosi com Fogo no Mar (2016) ou Nicolas Klotz e Élisabeth Perceval com L’Heroïque Lande (2017), é possível tratar a tragédia dos refugiados de modo activista e cinematográfico sem cair na banal formatação de especial de informação à medida das boas consciências liberais.

Há belíssimas, e importantes, imagens em Refugiados — por exemplo, os planos aéreos projectam, mais do que apenas uma esteticização da miséria, uma dimensão humana que a tendência da câmara “no solo” raramente permite. Mas falta um olhar que as ancore, uma postura que seja mais do que apenas fazer a digressão global da penitência por não conseguirmos fazer mais. O documentário de Ai Weiwei pode ter o coração no sítio certo, mas em vez de nos motivar à acção limita-se a confortar-nos na nossa impotência.

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