Invocação de Chavela Vargas

O mérito maior do filme de Daresha Kiyu e Catherine Gund é ir um pouco além da evocação de Chavela Vargas para ser quase uma invocação.

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O mérito maior do filme de Daresha Kiyu e Catherine Gund é ir um pouco além da evocação de Chavela Vargas para ser quase uma invocação — a que Chavela responde com a sua presença em muitos documentos e depoimentos de arquivo, na maior parte registados entre o princípio dos anos 90 (quando regressou ao activo e abriu caminho à sua redescoberta, no México e fora dele) e os seus últimos dias, já nesta década. A presença daquela figura, um rosto e uma voz marcados por tanta vida que se tornaram quase uma “canção”, injecta uma energia não despicienda a um filme que segue um regime bastante convencional, alternando entre o depoimento, o arquivo e alguma música (mas curiosamente, nem por isso assim tanta música).

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Aprende-se um pouco, sobre Chavela, sobre a importância matricial da sua figura na sociedade mexicana (em especial junto das mulheres e dos meios “gay”), sobre a violenta boémia do México de outras décadas. No segmento final, como a bonança depois da tempestade, transforma-se na história de uma mulher que precisou de esperar até aos 70 ou 80 anos para encontrar alguma paz, e é talvez até mais comovente do que o filme faz por merecer. Mas é aí que se vê que a invocação funciona: é como se o espírito de Chavela tomasse conta do filme. Que vale, sobretudo, por essa proximidade.

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