Funcionário público

Contra a “teoria dos autores”, Spielberg esconde-se como “tarefeiro de estúdio” por trás de The Post. Fica-lhe bem

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The Post é Spielberg em modo “funcionário”, eficiente, despachado, desenvolto

Goste-se mais ou menos de Steven Spielberg, mesmo quando os filmes são menores ou menos inspirados há sempre qualquer coisa em que vale a pena reparar. No caso de The Post, sobre a luta pela divulgação dos documentos do Pentágono que revelavam a má-fé da administração americana quanto à guerra do Vietname, é evidente que o filme se inscreve numa longa e nobre linhagem de produções Hollywoodianas sobre o poder da imprensa. Mas se a referência mais evidente são os thrillers liberais da nova Hollywood e sobretudo Os Homens do Presidente de Alan J. Pakula, a linhagem de The Post vai no entanto mais atrás — ao cinema do studio system do pós-Segunda Guerra Mundial a cujo estertor assistiu quando começou como realizador contratado da Universal dirigindo televisão nos anos 1970.

The Post não é um filme “de autor”, é uma obra de “serviço público” onde não há espaço para floreados pessoais, um contrato aceite pelo cineasta que o cumpre o melhor possível, ao serviço da história — e Spielberg gosta desse desafio, aceita-o, cumpre-o. The Post é Spielberg em modo “funcionário”, eficiente, despachado, desenvolto, apagado por trás do seu filme. E, por estranho que pareça, isso, neste caso, não é mau. É mesmo bastante bom. 

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