Discurso de Trump “não foi digno da ONU”, disse Presidente iraniano

Hassan Rouhani criticou as palavras “ignorantes” de do Presidente dos EUA, que diz já ter tomado decisão sobre acordo nuclear com Irão.

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O Presidente iraniano, Hassan Rouhani, cumprimenta o secretário-geral da ONU, António Guterres EPA/ANDREW GOMBERT

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a deixar o mundo em suspenso, agora pondo em causa a continuidade do acordo internacional assinado com o Irão em 2015. Um dia depois de, em plena Assembleia-Geral das Nações Unidas, Trump ter escolhido Teerão como um dos principais alvos da sua política externa, o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, arrasou o discurso do líder norte-americano, mas garantiu que não pretende ser o primeiro a violar o acordo.

O discurso do Presidente norte-americano não passou de “retórica ignorante, absurda e detestável” e “não é digno do palco da ONU”, afirmou Rouhani, a partir do mesmo palanque. Porém, a sua intervenção ficou marcada pela palavra “moderação”, numa clara tentativa de fazer ver a Washington que não há razões para enterrar o acordo que suspende o desenvolvimento do programa nuclear iraniano.

“Seria uma grande pena que este acordo fosse destruído por mal-intencionados acabados de chegar ao mundo da política internacional, o mundo teria perdido uma grande oportunidade”, disse Rouhani, numa referência óbvia dirigida a Trump. Consciente de que não há apetite entre os restantes signatários do acordo para o rasgar, Rouhani veio lembrar que o documento “pertence a toda a comunidade internacional e não apenas a um ou dois países”.

Há muito que o Presidente norte-americano manifesta publicamente a sua oposição ao acordo assinado em 2015 por seis potências mundiais – EUA, França, Reino Unido, China, Rússia e Alemanha – e pelo Irão, que ditou o congelamento do programa nuclear a troco do levantamento de sanções económicas. Para Trump, porém, trata-se de um “mau negócio” que é “uma vergonha para os Estados Unidos”.

Rouhani garantiu que “o Irão não será o primeiro país a violar o acordo, mas irá responder de forma decisiva e resoluta à violação por outras partes”. Trump tem até 15 de Outubro para confirmar, ou não, o cumprimento por parte do Irão dos requisitos contemplados pelo acordo – em caso negativo, o Congresso terá 60 dias para votar a reintrodução das sanções económicas que existiam até à assinatura do acordo.

Nesta perspectiva, um grupo de senadores democratas enviou uma carta ao secretário de Estado, Rex Tillerson, para que lhes seja facultada qualquer informação sobre potenciais violações do acordo por parte do Irão.

Apesar das palavras duras de Trump em relação ao acordo, é ainda incerto qual o rumo que irá tomar. Esta quarta-feira, o Presidente dos EUA disse ter já decidido qual o passo que pretende dar, mas não o revelou. A embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, veio esclarecer que as críticas de Trump “não são um sinal claro que ele pretende abandonar o acordo.” “São sim, um sinal de que ele não está satisfeito”, afirmou, durante uma entrevista à CBS News.

A pressão para que Trump mantenha vivo o acordo negociado e assinado pelo seu antecessor vem também dos restantes signatários. O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que abandonar o entendimento seria um erro, uma vez que ele “é bom”. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, manifestou preocupação com a perspectiva levantada por Trump. “Iremos defender este documento, este consenso, que foi recebido com alívio por toda a comunidade internacional”, afirmou citado pela Reuters.

Directamente de Teerão veio uma resposta mais dura por parte do líder dos Guardas da Revolução, o general Mohammad Ali Jafari. “Tomar uma posição forte contra Trump é apenas o início do caminho. O que é estrategicamente importante é que a América seja testemunha de respostas mais dolorosas às suas acções, comportamento e decisões em relação ao Irão nos próximos meses”, disse Jafari, citado pelo portal Sepah News.

Ao contrário de Rouhani, que é um representante da ala mais moderada e por isso defensora de um maior entendimento com os EUA e a Europa, os Guardas da Revolução têm uma postura mais conservadora e sempre se mostraram desconfiados em relação ao acordo nuclear.

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