Voluntário recusado pelos bombeiros ajuda a salvar do fogo dezenas de casas

Augusto Filipe morava longe e não podia fazer parte dos bombeiros. Agora, ajuda a combater os fogos e a salvar casas em Mação.

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O fogo em Mação lavra desde a meia-noite de quarta-feira LUSA/PAULO CUNHA

Um desempregado que os bombeiros não aceitaram como voluntário ajudou nos últimos dias a salvar, com um kit cedido pela Câmara Municipal de Mação, dezenas de casas no concelho que desde terça-feira à noite está a ser fustigado pelo fogo. Augusto Filipe, de 53 anos, quis em tempos ser bombeiro, mas viu recusados os préstimos oferecidos aos voluntários de Mação porque "disseram que morava longe e que quando a sirene tocasse ia demorar muito tempo a chegar", contou à Lusa.

À época, a longínqua morada era em Aboboreira, freguesia onde na noite de terça-feira deflagrou um incêndio que já consumiu mais de 80% da área florestal do concelho de Mação.

E foi para lá que, "assim que soube do fogo", Augusto foi com um kit, ou seja um depósito com cerca de 700 litros de água e uma mangueira, que permite aos moradores das aldeias mais isoladas atacar as chamas até à chegada dos bombeiros.

Os kits foram distribuídos pela Câmara de Mação a todas as juntas de freguesia do concelho. O de Aboboreira há vários anos que é entregue a Augusto Filipe há vários anos. Ele, sem farda e sem estatuto de bombeiro, faz por conta própria o trabalho de um voluntário.

Ao kit da junta juntou mais um que pagou do seu bolso para "ter mais capacidade de acudir às pessoas", como tem feitos nas últimas semanas, acorrendo a várias localidades da região onde as chamas se aproximaram das povoações. Desde quarta-feira já ajudou a salvar "dezenas e dezenas de casas" em Casalinhos, Penhascoso, Monte Penedo, Serra, Entre Serras, Ribeira de Boas Eiras, Lercas, Ortigas, de cujos nomes o cansaço dificulta a lembrança.

Em Queixoperra, onde vive agora, "se não fosse o kit tinha ardido uma casa toda", contou à Lusa, recordando o momento em que "até as mangueiras arderam e os bombeiros tiveram que fugir" das chamas "com mais de 20 metros de altura".

Mas o pior de todos os cenários encontrou-o na sexta-feira, quando por volta das 20h00 "se gerou um horror no Parque de campismo de Ortiga, com mais de 50 tendas em risco de ficarem queimadas ou derreterem com as altas temperaturas".

É também "por alto" que vai fazendo as contas aos "90 euros que já gastou em gasóleo para a carrinha" que leva o kit de terra em terra, ou aos "40 litros de gasolina para a motobomba" que puxa a água com que vai abastecendo o depósito, "nos furos por onda vamos passando, nos auto-tanques dos bombeiros, ou onde calha".

"Se calhar, a Câmara depois paga essas despesas", mas para já, Augusto Filipe ainda não viu "um tostão" para compensar o que já investiu a tentar garantir a segurança das populações do concelho.

Nada que o demova de continuar, garantiu à Lusa, durante uma pausa para um café no Centro Recreativo de Queixoperra. "Tenho a carrinha preparada com o kit e, se vir o vento a levantar ou começar a ver alguma coluna de fumo é só mudar de roupa e seguir para onde houver fogo", rematou.

O incêndio que deflagrou no concelho de Mação, distrito de Santarém, na meia-noite de quarta-feira mantinha-se às 16h30 deste sábado, segundo a página na Internet da Autoridade Nacional de Protecção Civil com uma frente activa que está ser combatida por 806 operacionais, apoiados por 232 meios terrestres e três aeronaves.

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