Trump critica dívidas à NATO, cortes na defesa e alerta aliados para novos atentados

O líder norte-americano falou na falta de defesa na Europa e disse ainda que grande parte dos países da NATO não cumpre as suas “obrigações financeiras”.

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Trump afirmou que 23 dos 28 países da NATO "não estão a pagar o que deveriam" LUSA/ETIENNE LAURENT

Nesta quinta-feira, o Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, voltou a acusar os aliados da NATO de não gastarem o suficiente em defesa e afirmou que poderá haver mais atentados como o desta semana, em Manchester, no Reino Unido, se não forem tomadas medidas e se a aliança não parar os militantes do Daesh. Trump falava em Bruxelas, na Bélgica, na sua estreia numa cimeira da NATO, dedicada ao combate ao terrorismo e à partilha de encargos dentro da aliança.

“Nunca renunciaremos à nossa determinação de eliminar o terrorismo e de alcançar segurança, prosperidade e paz duradouras”, afirmou Trump. “O terrorismo tem de ser parado, senão… o terror que viram em Manchester e em muitos outros lados continuará para sempre”, disse Trump, referindo-se ao atentado desta segunda-feira em Manchester, que vitimou 22 pessoas, incluindo crianças.

Donald Trump apelou à NATO – uma organização de defesa colectiva criada com o intuito de defender a Europa de um ataque militar soviético – para integrar nas suas prioridades a limitação da imigração, assim como a luta contra o terrorismo. Os líderes da NATO pretendiam que Trump mostrasse apoio público à aliança militar, que ele apelidara de “obsoleta” durante a sua campanha presidencial; porém, o líder norte-americano decidiu falar na queda nos mecanismos de defesa da Europa.

Nicholas Burns, um embaixador da NATO entre 2001 e 2005 e agora professor em Harvard, disse à Reuters que todos os presidentes norte-americanos desde Harry Truman apoiaram a decisão dos Estados Unidos auxiliarem a Europa e defenderam ainda o Artigo 5.º do Tratado de Washington que consagra o compromisso com a defesa colectiva. Mas isso não aconteceu com Trump: “Grande erro do Presidente Trump em não reiterar o apoio de os Estados Unidos à defesa colectiva. Não está a agir como um líder do Ocidente", escreve Burns no Twitter. Ainda assim, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, garantiu que Trump estava “plenamente empenhado” no que à defesa colectiva diz respeito.

Outro dos momentos que marcaram o dia foi o puxão dado por Trump ao primeiro-ministro do Montenegro – que se juntará à NATO no próximo mês – para passar à sua frente. O episódio foi registado em vídeo e foi partilhado nas redes sociais, sobretudo no Twitter. 

Coube ao secretário-geral da NATO Jens Stoltenberg tentar passar uma mensagem de unidade: “A NATO é mais do que um clube, mais do que uma organização. A NATO representa a ligação única entre a Europa e a América do Norte”, disse, argumentando que a aliança permanece “forte e resoluta”. 

E as declarações surpreendentes de Trump não ficaram por aí. O Presidente afirmou ainda que havia alguns países-membros que deviam “grandes quantias de dinheiro” aos Estados Unidos e à NATO. Donald Trump apontou o dedo aos “23 dos 28” países membros da NATO que não cumprem as suas “obrigações financeiras” e advertiu que 2% do PIB “é o mínimo” exigível para reforçar a defesa colectiva.

Países “não pagam o que devem”

Trump foi particularmente crítico em relação aos Aliados que, na sua opinião, “não estão a pagar o que deveriam” – a grande maioria, entre os quais Portugal –, sobrecarregando assim os Estados Unidos.

“Tenho sido muito, muito directo com o secretário-geral [Jens] Stoltenberg e com os membros da aliança ao dizer que os membros da aliança têm finalmente de contribuir com a sua quota-parte justa e cumprir as suas obrigações financeiras. Mas 23 das 28 dos países-membros ainda não estão a pagar o que deveriam estar a pagar e o que é suposto estarem a pagar para a sua defesa”, afirmou. “Isto não é justo para as pessoas e contribuintes dos Estados Unidos, e algumas destas nações devem grandes quantidades de dinheiro dos últimos anos”, disse ainda.

Trump referia-se ao compromisso, assumido na cimeira da NATO no País de Gales, em 2014, de todos os aliados destinarem 2% do respectivo produto interno bruto (PIB) a despesas militares, no prazo de uma década.

De acordo com os dados do relatório de 2016 da Aliança Atlântica, publicado a 13 de Março, em 2016, apenas cinco aliados atingiram ou ultrapassaram o objectivo acordado, designadamente Estados Unidos da América (3,61%), Grécia (2,36%), Estónia (2,18%), Reino Unido (2,17%) e Polónia (2,01%).

Nesta lista, Portugal surge na 12.ª posição entre os 28 Estados-membros, ao ter consagrado 1,38% do PIB a despesas na área da defesa, o que significa um aumento face a 2015 (1,32%) e a 2014 (1,31%), mas aquém dos valores registados entre 2009 (1,53%) e 2013 (1,44%).

Estes comentários foram feitos na nova sede da NATO, em Bruxelas, Bélgica; os chefes de Estado e de Governo da NATO reuniram-se esta quinta-feira em Bruxelas e Trump foi convidado a inaugurar um memorial às vítimas do atentado de 11 de Setembro de 2001. Para além da estreia do Presidente norte-americano, Donald Trump, foi também a primeira vez do novo Presidente francês, Emmanuel Macron. Portugal está representado pelo primeiro-ministro, António Costa.

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