Dijsselbloem lamenta se alguém se sentiu ofendido, mas não se demite

Líder do Eurogrupo reagiu à polémica sobre os "copos e mulheres" em relação aos países do Sul europeu, afirmando que o seu estilo "é directo".

Foto
Eric Vidal

Jeroen Dijsselbloem garantiu nesta quarta-feira que não tem intenções de se demitir do cargo de presidente do Eurogrupo, na sequência das declarações polémicas em que, numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, utilizou uma metáfora para explicar a relação entre os países do Norte e o Sul da Europa. “Não posso gastar o meu dinheiro todo em copos e mulheres e depois ir pedir a vossa ajuda. Este princípio vale para o nível pessoal, local, nacional e também europeu”, afirmou.

Agora, o holandês diz que a declaração foi mal-entendida e que lamenta se alguém se sentiu ofendido. “Eu lamento que alguém se tenha sentido ofendido pelo comentário. Foi directo, e pode ser explicado pela rigorosa cultura holandesa, calvinista, pela franqueza holandesa”, afirmou. “Percebo que isto não seja bem compreendido e apreciado noutros lugares na Europa”, explicou citado pela Reuters, acrescentando que aprendeu a lição neste aspecto.

“Ao mesmo tempo, eu penso que sou apreciado por manter o meu próprio estilo e que, com certa rigidez, me dirijo a todos os ministros, e por vezes tenho de ser rigoroso. E sim, o meu estilo é directo e, novamente, se alguém, se as pessoas se ofenderam, eu lamento muito, como é óbvio”, continuou Dijsselbloem.

Esta polémica levou o Governo português a pedir o afastamento do presidente do Eurogrupo. O primeiro-ministro, António Costa, também reagiu, esta quarta-feira, considerando as afirmações de Dijsselbloem "absolutamente inaceitáveis" e "muito perigosas". "Estas declarações do senhor Jeroen Dijsselbloem são absolutamente inaceitáveis. São também muito perigosas, porque demonstram bem qual é o perigo do populismo e que o populismo não está só naqueles que tem coragem de assumir que o são. Está também naqueles que aparecem com pele de cordeiro, porque fazem discursos que são racistas, xenófobos e sexistas, como o discurso do senhor Dijsselbloem", sustentou.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, subscreveu esta quarta-feira o pedido de afastamento de Jeroen Dijsselbloem defendido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros. De visita oficial à Bélgica, o chefe de Estado, ao ser questionado sobre as declarações de Dijsselbloem, apontou que num dia como o desta quarta-feira, em que se assinala o primeiro aniversário dos atentados de 22 de Março de 2016 em Bruxelas, “há valores tão mais importantes” do que os comentários do presidente do Eurogrupo e sublinhou que o Estado português já assumiu uma posição clara. “Eu sobre isso neste momento, em que há valores tão mais importantes do que isso, o que eu poderei dizer é que já foi tudo dito pelo senhor ministro dos Negócios Estrangeiros. E quando ele falou, falou em nome do Estado português. Portanto, como Presidente da República portuguesa, eu não posso senão subscrever o que ele disse”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.

O presidente do Partido Socialista Europeu (PSE) considerou igualmente uma "vergonha" que Dijsselbloem, membro desta família política, tenha insultado "com uma só frase" tantas pessoas, e sublinhou que aquela posição "não representa o PSE". "Com uma só frase, Dijsselbloem conseguiu insultar e desacreditar tantas pessoas e aumentar as divisões. As suas palavras são ofensivas tanto para os países do sul como do norte da Europa, mulheres e homens", comentou Sergei Stanishev numa declaração escrita.

Mas as críticas ao presidente do Eurogrupo vão para lá da política portuguesa. O Financial Times escreve uma análise onde faz um levantamento das principais críticas ao ainda ministro das Finanças holandês vindas de Portugal, Espanha e Itália. A notícia está entre as mais lidas da edição online daquele jornal económico nesta quarta-feira. “O chefe dos ministros das Finanças da Zona Euro está a enfrentar vários pedidos de demissão depois de recusar pedir desculpa por dizer que os países europeus atingidos pela crise gastaram o seu dinheiro em 'bebida e mulheres'”, começa por contextualizar o Financial Times. Seguem-se citações das críticas feitas pelos eurodeputados espanhóis Gabriel Mato e Ernest Ustasun, bem como do líder do grupo parlamentar dos socialistas em Bruxelas, Gianni Pitella.

Além disso, foram vários os Governos e políticos europeus que criticaram as declarações com alguns a exigirem a demissão de Dijsselbloem. O ex-primeiro-ministro italiano Matteo Renzi defendeu que o holandês deve demitir-se logo que possível. "Jeroen Dijsselbloem perdeu uma excelente oportunidade para ficar calado. Numa entrevista a um jornal alemão, permitiu-se reflexões estúpidas, não consigo encontrar melhor termo, contra países do Sul, começando por Itália e Espanha", escreveu nesta quarta-feira o antigo chefe do governo italiano na sua conta no Facebook.

Também o Governo de Atenas qualificou tais comentários como "sexistas" e "estereótipos fora de contexto". Na conferência de imprensa semanal, o porta-voz do governo helénico, Dimitris Tsanakopulos, afirmou que este tipo de estereótipos "aumenta a divisão >Norte-Sul" e é terreno fértil para "pontos de vista extremistas". Questionado directamente se o Governo grego considera que Jeroen Dijsselbloem deve ser afastado da liderança do Eurogrupo, o porta-voz do executivo de Atenas evitou responder.

Em Espanha, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) exigiu o "fim imediato" do mandato do presidente do Eurogrupo e que o presidente dos socialistas europeus, Sergei Stanishev, "retire o apoio político de toda a família social-democrata". O PSOE considerou que as declarações de Jeroen Dijsselbloem são "profundamente ofensivas, xenófobas e sexistas" e "colidem frontalmente com os valores sociais-democratas".

Sugerir correcção
Ler 32 comentários