Um casamento e três funerais

Competente, civilizado, anónimo, Um Homem Chamado Ove não cumpre a promessa de humor negro que faz ao início, nem justifica a sua nomeação ao Óscar.

Uma personalidade escarninha que se esbate rapidamente na banalidade anónima: <i>Um Homem Chamado Ove</i>
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Uma personalidade escarninha que se esbate rapidamente na banalidade anónima: Um Homem Chamado Ove
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Há dois filmes a lutar pela primazia nesta adaptação do best-seller do sueco Fredrik Backman.

O mais interessante é a comédia truculenta de humor seco e ríspido, paredes-meias com o humor negro, que os primeiros momentos prometem, à medida que conhecemos Ove, viúvo carrancudo e resmungão cujo mau feitio e constante picuinhice fazem a cabeça em água aos vizinhos e que, despedido do seu emprego de sempre, decide matar-se (sem sucesso e várias vezes).

Ainda assim, não se podem esperar daqui grandes surpresas — a partir do momento em que os novos vizinhos aparecem adivinha-se que o embalo de Um Homem Chamado Ove é o de “amolecer” o velhote misantropo para desistir das suas tentativas de suicídio constantemente interrompidas e redescobrir o seu lugar no mundo.

O outro filme é o dos flashbacks recorrentes ao passado de Ove que explicam o porquê do mau feitio, pontuados por nada menos de três funerais (e um casamento), que Hannes Holm filma como melodrama inspiracional algures entre o novelesco televisivo e o dramalhão a puxar à lágrima —e, que de caminho, também explicam porque é que a Academia de Hollywood se deixou levar na cantiga e nomeou Um Homem Chamado Ove para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ficamos com um filme civilizado, competente, profissional, certinho, até divertido aqui e ali —mas que parece sugerir o que afinal não tem, uma personalidade escarninha que se esbate muito rapidamente na banalidade anónima, no entretenimento descartável de domingo à tarde feito para dormitar frente ao televisor.   

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