Sete palmos de terra

Um filme de género eficaz, sólido, profissional, que não precisa de mais que três actores e um cenário para chegar a bom porto.

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Um cenário e três actores em boa forma – hora e meia de bom entretenimento de género
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Começa a ser um pouco incómodo reparar que as virtudes do cinema clássico – economia, solidez, profissionalismo, inteligência, modéstia – parecem ter-se todas refugiado no filme de terror. A Autópsia de Jane Doe é um excelente exemplo disso: a estreia “americana” do norueguês André Øvredal, autor do surpreendente O Caçador de Trolls (2010), instala-se abertamente dentro de um sub-género específico do fantástico, não tem pretensões a inventar nada, sabe como cumprir o seu caderno de encargos com desenvoltura e sem cair no piloto automático.

No essencial, é um “mistério de quarto fechado”: um cadáver sem identificação que não aparenta nenhum traço de decomposição é entregue ao médico-legista para uma autópsia, mas a entrada desta “Maria Ninguém” na morgue de Tommy e Austin Tilden, pai e filho, despoleta uma série de acontecimentos sobrenaturais que se agravam à medida que a autópsia corre.

Um cenário e três actores em boa forma (Brian Cox, Emile Hirsch e uma Olwen Kelly perfeita no papel da morta) – é tudo, e chega, Øvredal não precisa de mais para alinhar hora e meia de bom entretenimento de género. Derivativo, é certo, mas sem as “voltas na ponta” a que M. Night Shyamalan ou J. J. Abrams e discípulos nos habituaram, com uma sensibilidade retro que lhe fica bem. Não chega para tornar A Autópsia de Jane Doe num clássico, mas a sua honestidade desempoeirada e despretensiosa torna-o num bom exemplo de um filme que sabe o que quer e como lá chegar sem se perder pelo caminho – coisa que parece ser cada vez mais difícil de encontrar nos filmes ditos “sérios”.

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