As serviçais dos números

Uma história verídica dos anos 1960 americanos vira melodrama inspiracional e inofensivo sobre a luta pelos direitos civis. Elementos Secretos é simpático, mas previsível.

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É uma história à boa medida das boas consciências liberais de Hollywood
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Se há um filme cuja ausência das principais nomeações para os Óscares é surpreendente é este: a história verídica das mulheres que trabalharam no programa espacial da NASA como matemáticas e calculadoras, sem as quais os americanos nunca teriam posto os pés na Lua mas que, como mulheres negras nos estados do Sul nos anos 1960, nunca passaram de cidadãs de segunda classe cujo contributo apenas tardiamente foi reconhecido. É uma história à boa medida das boas consciências liberais de Hollywood, contada com todo o savoir-faire industrial que começa a escassear na produção americana de estúdio, todo o profissionalismo empenhado e bem-pensante de que o cinema americano é capaz. Está tudo no sítio em Elementos Secretos, desde os actores uniformemente excelentes à impecável reconstituição de época, passando pela atenta construção de uma narrativa heróica de simples dignidade quotidiana.

Esse “tudo no sítio” é precisamente aquilo que torna a segunda longa de Theodore Melfi no tipo de filme, benevolente e inofensivo, inspirador e abrangente, a que os Óscares chamam um figo, e é por isso que é surpreendente vê-lo relegado a “correr por fora”, chutado para canto pelo muito mais interessante mas bem menos convencional Moonlight. Dito isto, Elementos Secretos é, à imagem das Serviçais de Tate Taylor (com o qual partilha toda uma série de elementos, desde o período histórico à visão a longo prazo de uma “vaga de fundo” a favor dos direitos humanos), um filme perfeitamente simpático, erguido acima das suas limitações por um elenco de conjunto que se investe acima do que o filme acaba por ser.

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