2017: o ano da descoberta de que a história tem futuro

Inspirando-me num título de um profeta da era cristã, há uma previsão para 2017 que tomo por infalível: ficaremos definitivamente cientes de que a história tem futuro.

O ano de 2016, com as suas convulsões, terá sido o ano em que uma imensa maioria retomou a consciência activa, política e espiritual de que a história existiu. Porventura não só de que ela existiu, mas afinal que ainda existia. Inspirando-me num título de um profeta da era cristã (António Vieira), há uma previsão para 2017 que tomo por infalível: ficaremos definitivamente cientes de que a história tem futuro.

No plano económico, com o muro proteccionista de Trump, terá chegado uma etapa de regressão da globalização. Com o afundamento da banca italiana e a sua propagação, sobrevirá a necessidade ingente de reforçar a moeda única e a governação da zona euro. Na montanha russa — e russa mesmo — das eleições na Europa, o risco de nada fazer e até de desintegração será maior. Também o “Brexit” se arrastará, sem progressos, consumindo e congelando a restante agenda europeia, aguardando o fecho e o desfecho do ciclo eleitoral. A invasão dos populismos, entre grandes resultados, dará força à aspiração da “democracia directa” tecnológica de Grillo e da “democracia iliberal” do Leste. A ditadura das maiorias, só racional para Rousseau, fragilizará as democracias, deixando a separação dos poderes e os direitos individuais para trás.

No plano político, Trump desencadeará o cerco à China, a vencedora da globalização. Aliar-se-á à Rússia, à Turquia, ao Japão e à Índia. Deixará rédea solta a Putin para desestabilizar a Europa e jogar xadrez no Oriente Médio. Aí só segurará Israel e entregará todos os outros à rivalidade das ambições xiitas do Irão e sunitas da Arábia Saudita. A África será a grande esquecida, mas agigantar-se-á com a massa incomensurável de migrantes que vai rumar à Europa.

Portugal continuará a viver, engordando a dívida, desfazendo na sombra o Estado Social, aterrorizando-se com a subida dos juros. A “geringonça”, agora sem programa comum, abrirá mais brechas; o sistema partidário, que, tal como na Europa, já mudou à esquerda, vai ter de se readaptar no centro e na direita. E Marcelo corre o risco de ver Costa tornar-se num Marcelo maior do que ele. Às vezes os discípulos ultrapassam os mestres.

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