Depois destas eleições, os partidos vão ter problemas para perceber as suas identidades

"Não estávamos habituados a tanta falta de sensibilidade e má educação", diz Keith Shortall, director de informação da Maine Public Broadcasting Network.

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Keith Shortall, director de informação da Maine Public Broadcasting etwork Alexandre Martins

Como é que os habitantes do Maine têm reagido a esta campanha presidencial, em particular ao discurso mais agressivo a quem temos assistido?
É difícil dizer, porque os habitantes do Maine gostam muito de falar sobre tudo, mas são muito reservados em relação ao seu sentido de voto. É um assunto muito pessoal. Há alguns mais participativos, mas muitos acham que o seu voto é algo que só a eles lhes diz respeito. Em relação a Donald Trump e Hillary Clinton a situação não é muito diferente do resto do país. Ambos têm índices de popularidade muito negativos. Há pessoas de ambos os partidos que não estão entusiasmadas com os seus candidatos, mas também não querem que o outro ganhe. Isso pode manter as pessoas em casa no dia das eleições, mas este ano temos cinco referendos locais, o que também pode levar mais pessoas às urnas. É difícil antecipar qualquer coisa por causa dessas duas realidades, pode haver muitas surpresas.

Durantes as eleições primárias houve uma grande participação. O que tem acontecido nos últimos meses pode provocar o contrário e afastar as pessoas das mesas de voto nas eleições gerais?
O verdadeiro problema este ano, no Maine e em outras partes do país, é que temos assistido a grandes divisões em ambos os partidos. O Partido Republicano vai ter muitos problemas para perceber a sua identidade depois das eleições, seja qual for o resultado, mas o Partido Democrata também. É esta realidade que tem marcado de forma profunda as eleições este ano, e por isso é muito difícil antecipar cenários.

Lembra-se de uma campanha tão dura como esta?
Todas as eleições são sempre muito duras, mas esta é diferente porque tem fugido às regras de decoro público. Não estávamos habituados a tanta falta de sensibilidade e má educação. Sempre houve alguma maldade, mas também havia um limite que não se podia ultrapassar. Este ano esse limite foi ultrapassado.

É mais provável que os apoiantes de Donald Trump se mantenham no Partido Republicano depois das eleições, ou poderá haver uma fractura?
Há quem diga que Donald Trump roubou o antigo Partido Republicano àquilo a que chamamos o establishment, aqueles republicanos verdadeiramente conservadores, tradicionais, que defendem uma redução dos impostos e um governo menos interventivo. Trump deixou esses republicanos sem um partido em que se podem rever. É isso que vai ser interessante perceber: esses republicanos vão recuperar o antigo Partido Republicano, ou será criado um outro partido? O mais provável é que haja uma luta interna pelo poder e que o Partido Republicano se mantenha. Não sabemos é quem é que vai ganhar essa luta. Mas também é verdade é que os partidos enfrentam estas situações ao fim de algumas décadas, se virmos por esse lado não deixa de ser um fenómeno natural.

E do lado do Partido Democrata, o que poderá acontecer ao movimento que se juntou à volta de Bernie Sanders?
É a mesma coisa, só que no lado do Partido Democrata é mais uma mudança demográfica, com os mais jovens a mostrarem a sua insatisfação com os políticos tradicionais. Temos assistido a isso um pouco por todo o mundo, os eleitores mais jovens querem um corte com o statu quo.

Apesar de todas essas mudanças internas, a forma como os EUA aparecem aos olhos do resto do mundo é algo que preocupa os eleitores?
Os americanos são tradicionalmente mais focados nos assuntos internos, principalmente na economia e de que forma os políticos vão resolver os seus próprios problemas. Olhamos muito menos para nós como um povo do que o nosso governo. Os cidadãos estão muito mais preocupados com o que se passa ao seu lado.

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