Um “petroleiro” com cinco anos de prejuízos

Caixa Geral de Depósitos fechou 2015 com 172 milhões de euros de prejuízo. Troika levou banco a vender muitas das suas participações em empresas.

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A sede da CGD, em Lisboa GONcALO PORTUGUES

No início deste ano, na apresentação dos resultados de 2015, o presidente da Caixa Geral de Depósitos, José de Matos, que se prepara para deixar o cargo no final deste mês, comparou o banco público a um “petroleiro difícil de mover”. Decorria então a quinta apresentação consecutiva de contas em que a CGD comunicava prejuízos anuais.

No ano passado, o banco detido pelo Estado, que beneficiará agora de uma recapitalização com dinheiro público, teve resultados negativos próximos de 172 milhões de euros. As contas estavam no vermelho, mas ainda assim mostravam uma melhoria significativa face aos 348 milhões de euros negativos com que a instituição saldara o ano de 2014.

Já em 2016, um ano para o qual foi projectado um regresso aos lucros, a CGD chegou a Junho com um prejuízo semestral em torno dos 205 milhões de euros. É um valor que contrasta com os lucros de 47 milhões registados no primeiro semestre de 2015. Só o segundo trimestre deste ano foi responsável por um resultado líquido negativo de 131 milhões de euros. As operações financeiras, explicou o banco, ressentiram-se do "Brexit" e da “elevada volatilidade sentida nos mercados financeiros internacionais”, incluindo o da dívida pública. O produto bancário ao longo do semestre ascendeu a 755 milhões de euros, quase menos 400 milhões de euros face ao mesmo semestre de 2015. Os depósitos de clientes subiram de 69,8 mil milhões de euros para 72 mil milhões. Os custos operacionais caíram 2%.

A imagem de um petroleiro usada por José de Matos assenta bem à dimensão de um grupo com 140 anos de história (a fundação foi em 1876), 99 mil milhões de euros de activos, quatro milhões de clientes em Portugal, 1221 agências, cerca de 8800 funcionários dentro do país e quase outros tantos fora. A CGD tem ainda uma fatia de 29% dos depósitos em Portugal, o que inclui praticamente um terço dos depósitos feitos por clientes particulares e 12% dos depósitos empresariais, de acordo com a informação mais recente disponibilizada pelo banco. Por outro lado, concede 22% dos créditos. Tem actividade em 23 países, entre os quais Angola, Cabo Verde, Moçambique e Brasil, bem como no Reino Unido, Espanha e França.

As ramificações do grupo têm, no entanto, vindo a encolher. Ao longo dos últimos anos, a CGD vendeu várias das suas participações e património. Este ano, alienou o Campus da Justiça, em Lisboa, por 223 milhões de euros. Há dois anos, vendeu o negócio dos seguros (que integrava as seguradoras Fidelidade, Multicare, Seguros de Saúde, Cares e Companhia de Seguros) à chinesa Fosun, num negócio com um encaixe total a rondar os 1200 milhões. Em 2013, tinha já vendido o negócio hospitalar à brasileira Amil. Nesse mesmo ano, vendeu a participação de 6% que tinha na PT (era então o terceiro maior accionista). Esta alienação de participações em sectores não financeiros foi uma das medidas do memorando assinado entre Portugal e a troika. Nesse âmbito, a CGD vendeu ainda as acções que tinha na Cimpor, Zon, Galp e Brisa.

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