Nadador-salvador, profissão sazonal mas com trabalho garantido no Algarve

Os cursos, com a duração de 150 horas, subiram de 150 para 320 euros. “Deviam ser gratuitos, porque isto é serviço público”, defende um dos formadores.

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Este ano haverá 4000 nadadores-salvadores em funções, tal como em 2011 Foto: PÚBLICO

No Algarve, em Quarteira há uma praia fechada à espera de contratar nadadores-salvadores. Os toldos estão abertos, a clientela serve-se das sombras, mas não paga. “Não posso cobrar”, diz o concessionário, Rogério Alegre, lamentando o facto de não ter encontrado ainda pessoas habilitadas para dar assistência aos banhistas. Durante os 45 anos que tem a trabalhar na praia, lamenta, é a “primeira vez que acontece uma coisa destas”. As carências fazem-se sentir um pouco por toda a região.

No passadiço que dá acesso à praia “Alegre” [concessionada a Rogério Alegre], há uma placa a avisar: “praia não vigiada”. A advertência, diz o empresário, tem uma função “apenas preventiva” porque mais à frente, a 100 metros de distância, estão dois nadadores-salvadores de serviço à praia seguinte. “Em caso de necessidade não iriam deixar morrer ninguém afogado e eu seria o primeiro a saltar para a água se houvesse perigo”, afirma. Mas para a sua praia não encontrou pessoal. Porquê... paga mal? “Ofereço 900 euros mensais limpos durante quatro meses”, esclarece. Nas traseiras da barraca de madeira, onde guarda as cadeiras e colchões, tem o anúncio afixado, desde o princípio do mês, a pedir nadadores-salvadores. “Tenho agora aí um rapaz interessado, vamos lá ver se consigo contratá-lo”, adianta, prevendo que na próxima semana possa preencher as vagas

Nas piscinas municipais de Faro decorre o último curso de nadadores-salvadores para esta época, o que, no entender do formador Vítor Santos (“Bonixe”) é um contributo para minimizar a falta de profissionais nesta área. Este ano, na zona central do Algarve - Faro/Loulé - Bonixe formou meia centena de profissionais, cerca de metade dos anos anteriores. “Há menos candidatos aos cursos”, justifica. O preço, admite, pode ser uma justificação. Os cursos, com a duração de 150 horas, subiram de 150 para 320 euros. “Deviam ser gratuitos, porque isto é serviço público”, defende. O que se está a passar em Quarteira e noutras praias do país não o surpreende. “As provas são exigentes e isto não é trabalho para qualquer um – exige muita dedicação “. Para cobrir de forma eficaz todas as praias da região, adianta, seriam precisos pelo menos 500 nadadores-salvadores e não há profissionais que cheguem. Assim, como a procura é maior do que a oferta, diz, “há concessionários a ‘roubar’ pessoal uns aos outros, oferecendo melhores salários”.

O “chefe” Bonixe, como é tratado pelos alunos, prepara os futuros nadadores-salvadores, como se estivesse a dar treino militar. “Isto aqui não é uma passagem de modelos, uma passarelle para exibir músculos ou poses artísticas”, afirma, acrescentando que é exigido “espírito de sacrifício e profissionalismo”. Quando lhe aparece alguém com “estilo”  a candidatar-se, fica atento à encenação: “Tiro-lhe logo o retrato, se vem para ficar ou se é só para ver como param as modas”. Num curso de 30 candidatos, chumbam em média seis ou sete. “Mas tenho cá boa gente, capaz de dar a vida pelos outros”, orgulha-se.

Rogério Alegre fez com ele o curso. “É um castiço”, diz, elogiando-lhe as qualidades de nadador-salvador, profissão que exerceu até há três anos. “Já não temos a pica da malta nova”, diz o formador, adiantando que, tal como o ex-aluno, está com 61 anos. Nesta idade, admite, já lhe falta o fôlego para certos desafios. “Por isso, agora sou só formador”. De três em três anos, estes profissionais são obrigados a uma actualização de conhecimentos. O exame inclui provas teóricas e práticas. O teste, além da natação, inclui exercícios de Suporte Básico de Vida e uma corrida de 1400 metros, que tem de ser feita em 12 minutos. “Com a minha idade, falta alguma agilidade”, reconhece, apontando para uma jovem, a fazer mariposa para fortalecer a musculatura. Porém, o que formador se gaba de não ter perdido foi a experiência e a capacidade de liderança. “Fui bombeiro, e toda a vida andei metido nestas coisas”, justifica. A carreira de formador começou em 1987. “Devo ser um dos mais antigos do país”. Vítor Santos é presidente da Associação Humanitário dos Nadadores-Salvadores de Faro e através dessa entidade garante trabalho para a maior parte dos seus alunos. Por fim, deixa um alerta: nos empreendimentos turísticos, a legislação não obriga a que haja nadadores-salvadores nas piscinas frequentadas pelos clientes “Não se percebe esse vazio no quadro legislativo”, comenta. A segurança, sublinha, deve se vista de todos os ângulos. “Se morre um turista afogado, a quem vão pedir responsabilidades?”, questiona.

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