Fungos, parasitas, mutações e um bar

Visita pelos corredores do edifício cinzento do novo grande instituto do Porto.

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Nos corredores do novo instituto no dia da inauguração oficial Nelson Garrido

Há muita coisa a acontecer no I3S. Esta quinta-feira, o Presidente da República conheceu três exemplos numa visita rápida pelos corredores cinzentos do edifício. Marcelo Rebelo de Sousa aprendeu sobre fungos, parasitas e mutações genéticas.

A visita foi curta e passou por apenas dois laboratórios, no primeiro andar, mais um de serviços no rés-do-chão. Antes disso, a comitiva espreitou de passagem o primeiro microscópio electrónico do Porto. Trata-se de um equipamento de grande resolução oferecido nos anos 1960 ao então Centro de Microscopia Electrónica da Universidade do Porto pela Fundação Calouste Gulbenkian e “vive” num canto do primeiro andar do edifício do I3S.

A primeira paragem para mostrar a ciência que se faz hoje foi no laboratório de Ana Tomás, que trabalha na área da infecção, neste caso dedicada à leishmaniose. Dentro do I3S há mais grupos dedicados ao estudo do parasita Leishmania, e alguns produtos de rastreio já estão em fase muito avançada de desenvolvimento. A leishmaniose em Portugal é apenas uma preocupação a nível veterinário, afectando cerca de 110 mil cães, segundo dados do Observatório Nacional das Leishmanioses.

Em Portugal, a leishmaniose visceral nos humanos tem mantido uma média de 15 casos por ano reportados à Direcção-Geral da Saúde. Contudo, em países em vias de desenvolvimento, como é o caso do Brasil ou da Índia, o número de pessoas infectadas é muito elevado. “É uma doença negligenciada”, nota Ana Tomás que espera saber mais sobre algumas enzimas produzidas por este parasita que fazem com que seja mais resistente e sobre os métodos usados para se alimentar de nutrientes do hospedeiro.

A segunda paragem foi no laboratório ocupado pela equipa de Graça Porto e a que mais entusiasmou o Presidente da República (ver texto principal). Marcelo Rebelo de Sousa foi levado ainda ao espaço ocupado pela equipa de Manuel Vilanova, investigador da área da imunologia e infecções. Neste laboratório, o objectivo é saber mais sobre três agentes patogénicos (Candida albicans, Staphylococcus epidermidis e Streptococcus do grupo B) que são causadores de algumas das mais importantes infecções hospitalares. Cruzando o que vai conseguindo descobrir sobre fungos e bactérias com as áreas da nanotecnologia ou dos biomateriais para tentar encontrar estratégias de vacinação ou novas terapias, o trabalho deste grupo de investigação já saiu dos limites do laboratório e já resultou numa empresa spin-off, a Immunotep, que desenvolve imunoterapias para infecções.

Manuel Vilanova, que também é professor no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, no Porto, não esconde o entusiasmo com a “máquina” do I3S. “É muita gente, temos seminários internos para estarmos a par do que os outros grupos estão a fazer e para potenciar sinergias. É impressionante a quantidade de sinergias que já nasceram. O I3S é um sucesso visível”, referiu ao PÚBLICO, acrescentando ainda que “é muito fácil conseguir que as pessoas colaborem quando estão num ambiente próprio para isso”.

Por outro lado, constata Manuel Vilanova, o ciclo completa-se quando os resultados que saem dos laboratórios “chegam cá fora” e há uma translação, aplicabilidade e rentabilidade do conhecimento, com a criação de spin-offs para vacinas ou outras soluções, executada pela unidade de transferência de tecnologia. “É uma máquina institucional” que faz com que seja mais fácil e mais rápido fazer mais e melhor ciência, diz.

Ana Tomás não esconde a satisfação com o I3S mas não abdica do sentido crítico. O I3S tem um problema, nota a cientista que ainda não se conformou com uma falha (corrigível) do instituto. “Isto é muito grande e tem muita gente. Temos os seminários internos para estarmos a par do que os outros andam a fazer. Mas, num bar, descontraidamente também se trabalha e podemos saber muita coisa sobre o que se faz aqui. Falta o bar.”

 

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