NATO envia navios de guerra para o Mar Egeu para travar o fluxo de refugiados e imigrantes

Angela Merkel pedira a ajuda da Aliânça Atlântica devido à evolução da guerra na Síria, sobretudo na zona de Alepo, de onde nas últimas semanas fugiram milhares de pessoas.

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Este ano já atravessaram o mar Egeu 75 mil pessoas; 409 morreram a tentar Yannis Behrakis/Reuters

Numa missão sem precedentes, navios da NATO foram enviados para o Mar Egeu para travar o tráfico de pessoas entre a Turquia e a Grécia, na rota que mais refugiados e imigrantes está a trazer para a Europa. O anúncio foi feito nesta quinta-feira pelo secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, e surge na sequência de um pedido feito pela Turquia, Alemanha e Grécia numa reunião de ministros da Aliança Atlântica em Bruxelas.

Stoltenberg disse que a missão não se destina a "parar e mandar para trás barcos com refugiados". Visa, sim, "vigiar e reunir informação vital para conter o tráfico de seres humanos".

Os ministros dos 28 países membros basearam a decisão na ideia de que se a rede de traficantes que transporta, em condições sub-humanas, estes milhares de pessoas oriundas da Síria, do Iraque, do Afeganistão mas também de países africanos e magrebinos — que optam pela rota Turquia-Grécia para chegarem à Europa, devido à situação na Líbia — for neutralizada, o fluxo de pessoas diminuirá.

Desde o início de Janeiro já chegaram à União Europeia (às ilhas gregas) 75 mil refugiados e imigrantes; 409 pessoas morreram na viagem pelo Mar Egeu.

A decisão dos ministros da Defesa da NATO foi tomada para ajudar a Turquia e a Grécia a lidarem "melhor com a tragédia humana", disse Stoltenberg, acrescentando que até aqui a questão dos refugiados e imigrantes não está a ser solucionada da melhor forma.

A possibilidade de a NATO ser chamada para intervir nesta crise — que, disse Stoltenberg, constitui uma "ameaça de segurança para os 28 países membros que já enfrentam novos desafios na Europa devido à Rússia e à crise na Ucrânia" — tinha sido aberta pela chanceler alemã, Angela Merkel, que na segunda-feira pediu ajuda à Aliança Atlântica. Na origem do seu apelo esteve a evolução da guerra na Síria, com o intensificar dos combates, sobretudo na zona de Alepo, no Norte da Síria, de onde fugiram milhares de pessoas agora concentradas junto à fronteira com a Turquia, que o governo de Ancara mantém fechada.

Logo após a reunião ministerial, a NATO enviou para o Egeu, com carácter de urgência, três navios de guerra — a operação vai ser liderada pelo Maritime Group 2, comandado pela Alemanha, em colaboração com as marinhas turca e grega, e poderá envolver entre seis e sete navios da organização de defesa militar.

Mas apesar das garantias dadas por Stoltenberg, e uma vez que não foram avançados mais pormenores sobre como se desenrolará esta operação, ficou no ar a possibilidade de os navios da NATO terem uma missão mais alargada do que a simples vigilância das águas — a de criarem um tampão a impedir a progressão dos barcos cujos passageiros, se não entrarem em águas territoriais europeias, não poderão pedir asilo.

O ministro grego da Defesa, Panos Kammenos, disse à saída da reunião de Bruxelas que as forças da Aliança Atlântica ficarão posicionados na linha costeira turca, e que "todos" os que foram encontrados serão enviados para a Turquia. A ministra alemã, Ursula von der Leyen, falou mesmo na existência de um "acordo sólido com a Turquia segundo o qual os refugiados serão reenviados para a Turquia".

Mas este anúncio de cooperação no Mediterrâneo Oriental surge também num momento em que as ameaças de não colaboração do Governo turco sobem de tom. O Presidente Recep Erdogan confirmou esta quinta-feira ter dito ao presidente da comissão europeia, Jean-Claude Juncker, e ao presidente do Conselho da Europa, Donald Tusk, que inundaria a UE com uma nova vaga de refugiados, abrindo passagem a milhares de sírios, se Bruxelas continuar a acossar a Turquia. O país está a ser pressionado para deixar entrar no seu território os milhares que fugiram da batalha de Alepo.

"Dissemos aos europeus: temos pena, mas abriremos a porta e diremos ‘adeus’ aos migrantes", disse Erdogan, que prosseguiu: "Não temos a palavra ‘idiota’ escrita na testa. Não pensem que os autocarros estão aqui para nada. Seremos pacientes, mas faremos o que tivermos que fazer".

 

 

 

 

 

 

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