A economia brasileira no meio de uma tempestade perfeita

Combinação de efeitos externos negativos, com desequilíbrios internos graves retira ao Brasil a possibilidade de encontrar uma solução simples para a sua crise.

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Dilma Roussef já teve três ministros das Finanças este ano

Três ministros das Finanças e várias inflexões de política económica depois, o Brasil continua sem conseguir sair daquela que poderá ser a sua maior recessão dos últimos 115 anos e, pior do que isso, ainda sem uma solução óbvia à vista para uma crise em que, depois de um início de século tão promissor, tudo parece correr mal ao mesmo tempo.

A economia brasileira surge neste momento, em todas as previsões, entre as que pior desempenho económico deverão registar em 2016, ao lado de países em zonas de conflitos como a Síria. No ano passado o PIB já caiu 3,7% e agora arrisca-se, de acordo com as mais recentes projecções,  a registar uma nova queda, desta vez próxima dos 3%.

De repente, tudo o que corria bem na economia brasileira durante os primeiros dez anos deste milénio está agora a correr mal. Uma combinação de circunstâncias internas e externas negativas formaram uma autêntica tempestade perfeita que assola neste momento o Brasil.

Os problemas começaram a tornar-se incontornáveis quando, em 2014, nos Estados Unidos, se começou a falar da possibilidade de a Reserva Federal norte-americana voltar a subir as suas taxas de juro zero. O Brasil foi logo nessa altura um dos países a sentir mais o impacto da inversão da política monetária expansionista na maior economia do Mundo.

Isto acontece porque, com as taxas de juro dos EUA a subirem, o real fica sob forte pressão nos mercados cambiais internacionais, exacerbando todos os outros problemas que o país foi acumulando. A sequência de dificuldades entretanto sentida é um autêntico pesadelo para qualquer responsável pela política económica.

A forte depreciação do real face ao dólar tem duas principais consequências directas negativas. Por um lado, contribui para que a inflação dispare, porque a economia é muito dependente das importações e os bens comprados em divisa estrangeira sobem rapidamente de preço. Por outro lado, as empresas, os particulares e o Estado que pediram empréstimos em dólares ficam com uma dívida mais difícil de pagar, retirando-lhes espaço de manobra para recorrerem a novo crédito e financiarem o seu consumo e investimento.

Com a inflação no final do ano passado a cifrar-se em 10,7% - muito longe da meta de 4,5% e do intervalo de tolerância situado entre 2,5% e 6,5% - o banco central do Brasil decidiu que tinha de actuar para assegurar a estabilidade de preço e contrariar a queda a pique do real. O que fez foi aumentar as taxas de juro sucessivamente. Entre Janeiro de 2013 e Janeiro de 2016 passaram de 7,15% para 14,15%, algo que faz com que, mais uma vez, seja mais difícil às empresas e aos consumidores recorrer ao crédito.

Do lado do Estado, que tem de enfrentar a perda de grau de investimento nos ratings atribuídos pela Standard & poor’s e a Fitch, a resposta tem sido a imposição de maiores restrições na despesa e o aumento de alguns impostos, numa tentativa de controlar a escalada da dívida.

Com as taxas de juro a subirem, as empresas e as famílias a consumirem e investirem menos e o Estado a tentar poupar, a economia colapsou de forma clara a partir de 2014. A queda dos preços do petróleo nos mercados internacionais e o escândalo de corrupção em torno da Petrobras ainda agravaram mais a situação, já que acabaram com a esperança de que o sector energético pudesse vir a ser a salvação da economia brasileira. E mais recentemente, a crise na China tem vindo a provocar uma fuga de activos mais arriscados por parte dos investidores, o que significa que todas as economias emergentes sentem um efeito quase imediato de contágio.

Perante todas estas complicações, o Brasil tem vindo a sentir dificuldades em encontrar uma solução para os seus problemas. Se opta por uma política de controlo estrito da inflação e da dívida através de subidas das taxas de juro, cortes na despesa pública e aumentos de impostos, arrisca-se a afundar ainda mais a economia, com possíveis efeitos colaterais nas próprias finanças do Estado. Se aposta em políticas monetária e orçamental mais suaves, tentando relançar a economia, arrisca que os investidores percam confiança na economia e agravem a situação com fugas de capital.

O dilema entre estas duas opções é evidente na administração liderada por Dilma Roussef, que escolheu no início de 2015 o mais ortodoxo e favorito dos mercados Joaquim Levy para liderar as finanças, apenas para o substituir nas últimas semanas do ano passado. O novo titular desta pasta decisiva, Nelson Barbosa, antes ministro do planeamento, tem agora nas mãos uma economia em crise.

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