Isabel dos Santos quer passar a dominar banco do BPI em Angola

Em tom de ruptura com a gestão liderada por Fernando Ulrich, a Unitel, controlada pela empresária, propõe pagar 140 milhões por 10% do BFA.

Foto
nFactos/Fernando Veludo

A empresa de telecomunicações angolana Unitel, controlada por Isabel dos Santos, quer passar a dominar o BFA, onde detém actualmente 49,9% (o restante é do BPI). A proposta, comunicada ao mercado através do BPI, passa pela aquisição de mais 10%, propondo pagar 140 milhões de euros (em várias fases) para chegar aos 60% e controlar o banco angolano.

O negócio que está em cima da mesa é válido até ao final deste mês de Janeiro e surge como resposta à convocatória de uma assembleia geral para dia 5 de Fevereiro, por parte do banco liderado por Fernando Ulrich, para votar a cisão dos negócios do banco em África (Angola e Moçambique), face às novas exigência do Banco Central Europeu (o BCE quer menor exposição do banco ao mercado angolano). Algo que precisa do aval da Unitel, que já afirmara, por duas vezes, não concordar com esta estratégia.

Na carta enviada ao BPI, datada de 31 de Dezembro e assinada por um administrador da Unitel, Diogo Santa Marta, a empresa utiliza um tom crispado, afirmando ver como “desrespeitoso” o facto de o BPI ter avançado com a convocatória da assembleia geral sabendo que essa solução não era “aceite pelo seu parceiro do BFA”. Da mesma forma, a palavra “desrespeitoso” é usada numa outra frase, em que se dá conta de que a Unitel soube da convocatória da assembleia-geral pelos jornais. “Permitam-nos que deixemos claro que esta posição de não aceitação da solução proposta não está condicionada a qualquer negociação, sendo final e definitiva”, diz a empresa.

De acordo com a Unitel, onde Isabel dos Santos está associada a parceiros como a Mercury (da Sonangol, petrolífera estatal angolana), depois das duas cartas onde mostrou a sua oposição à cisão simples houve um encontro em Londres onde se discutiram cenários com a comissão executiva do BPI.

Nessa altura, os parceiros angolanos apresentaram três hipóteses: o reforço da posição no BFA (rejeitado pelos gestores do BPI), a dispersão de cerca de 30% do capital do BFA em bolsa (15% por parte de cada um dos sócios, algo a que o BPI terá dito que não, por falta de tempo para montar a operação), e uma cisão, mas em moldes diferentes do que foi proposto para ir a votos dia 5 de Fevereiro (que mantém a mesma estrutura accionista, através de uma cisão simples).

A opção acabou por ser a de avançar para a cisão com recomposição do capital social, algo que o regulador português, a CMVM, não aceitou. Se essa recusa não surpreendeu a Unitel, segundo a própria empresa, que afirma ter antes exposto as suas reservas, a Unitel diz agora que foi “com uma inaudita surpresa" que recebeu "a informação que o Banco BPI, tendo já recebido duas informações da Unitel de que não aceitava a cisão simples, entendeu aprovar essa mesma cisão no conselho de administração”, e apresentar o seu projecto a registo na conservatória do registo comercial.

A deliberação do conselho de administração, presidido por Artur Santos Silva, foi votada de forma favorável por todos os seus membros, à excepção de Mário Silva, o representante de Isabel dos Santos. A empresária, filha do Presidente de Angola, é, além de accionista da Unitel, o segundo maior accionista do BPI, após o La Caixa. Actualmente, detém cerca de 19% do capital do BPI.

Sugerir correcção
Ler 13 comentários