Activista angolano em greve de fome “está entre a vida e a morte”

Director dos serviços prisionais diz que Luaty Beirão “não está a receber assistência médica, porque não está doente”.

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Luaty diz que não vai abdicar do protesto

O estado de saúde de Henrique Luaty Beirão, um dos activistas detidos desde Junho em Angola, em greve de fome há 18 dias, agravou-se, segundo o grupo antigovernamental de que faz parte e a defesa.

A mãe do Luaty, a única que esta quinta-feira foi autorizada a visitá-lo, na cadeia de Calomboloca, em Luanda, disse que “está seriamente debilitado, não consegue nem pelo menos engolir líquidos” – escreveu na sua página do Facebook o autodenominado Movimento Revolucionário, grupo de que o detido faz parte.

“Teme-se que as próximas horas sejam decisivas”, afirma o movimento, que nos últimos anos promoveu diversos protestos contra o Governo.

“Está entre a vida e a morte”, disse também na manhã desta quinta-feira ao PÚBLICO Walter Tondela, advogado de 12 dos 17 acusados de tentarem derrubar o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos. “Ele está a passar muito mal.”

O advogado disse que o activista e músico, conhecido no meio artístico como "Ikonoklasta" ou "Brigadeiro Mata Frakuzx", “não está a receber assistência médica” e já foi pedida a “intervenção urgente ao director dos Serviços Penitenciários. “Até agora, não tivemos resposta.”

Contactado pelo PÚBLICO, o director-geral dos Serviços Prisionais de Angola, António Fortunato, não confirmou ter recebido qualquer pedido de intervenção urgente por parte dos advogados de defesa e disse que Luaty Beirão “não está a receber assistência médica, porque não está doente”. “Preocupa-nos a situação, mas o estado de saúde não é grave. Só tem a debilidade resultante da falta de proteínas, por não estar alimentado.”

“A família continua a poder visitá-lo. O problema que se coloca é que ele mantém a sua posição, recusa-se a comer. Temos de convencê-lo a mudar de atitude e tomar uma medida de força. Obrigá-lo a comer ou levá-lo para um hospital”, disse Fortunato. “Não podemos ainda definir qual a medida mais acertada de acordo com a lei penitenciária. Vamos agir consoante os relatórios médicos”, acrescentou, sem esclarecer em que dia o activista foi observado pela última vez. “Foi há uns dias atrás.”

Na sexta-feira dia 2 de Outubro, Beirão, 33 anos, chegou a ser transferido para o Hospital-prisão de S. Paulo, mas voltou à cadeia de Calomboloca, onde está desde Junho.

Segundo o Movimento Revolucionário, durante a visita da mãe, o activista pediu à “sociedade que faça alguma coisa” e “frisou que não vai abdicar da greve de fome, pois está convicto de que não atentou contra a vida de Eduardo dos Santos”.

Luaty e outros 14 jovens estão detidos em cadeias de Luanda desde 20 de Junho – um deles desde 24. As autoridades acusaram-nos de estarem a preparar um golpe de Estado e um atentado contra o Presidente da República. Três outros detidos –  falou-se mesmo em oito – chegaram a estar em greve de fome, mas o activista e músico é o único que prossegue com essa forma de protesto.

Para além de 15 detidos, duas arguidas esperam o julgamento em liberdade.

Para o fim da tarde desta quinta-feira tinha sido convocada uma vigília de solidariedade com Luaty Beirão no Largo 1.° de Maio, em Luanda, palco de outros protestos nos últimos anos. “Vista-se de branco e traga consigo velas para juntos meditarmos e chamar as forças que existem para que possamos ter o Luaty com vida”, apelou o grupo, no Facebook.  À última hora a iniciativa foi mudada para a Igreja da Sagrada Família, noticiou o site Rede Angola.

 

 

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