Seis esfaqueamentos em dois dias agravam tensão em Israel

Esperanças de um regresso rápido à calma abaladas por novos ataques. Abbas e Netanyahu sob pressão dos radicais

Foto
Confrontos entre grupos de jovens palestinianos e o Exército repetem-se na Cisjordânia Thomas Coex/AFP

Depois de um “dia de terror”, Israel viveu nesta quinta-feira um segundo dia de pânico, com uma sequência de três ataques com armas brancas, em Jerusalém, Telavive e num colonato na Cisjordânia, de que resultaram seis feridos, dois dos quais com gravidade. Há uma semana que a violência entre israelitas e palestinianos não pára de aumentar, ao ponto de, uma vez mais se, falar na possibilidade de uma terceira Intifada.

O filme dos acontecimentos repete de forma muito idêntica a violência da véspera, quando três palestinianos, um dos quais uma jovem de 18 anos, atacaram à facada três israelitas – um homem em Jerusalém Leste, um soldado numa cidade do Sul e um colono num subúrbio de Telavive. Israel colocou as suas forças em alerta, mas o reforço de pouco serve contra atacantes que agem sozinhos, de forma totalmente imprevista, aparentando inspirar-se uns nos outros através das redes sociais.

Pela manhã, um rapaz de 19 anos vindo de um campo de refugiados nos arredores de Jerusalém esfaqueou várias vezes um israelita de 25 anos junto a uma avenida que separa zonas palestinianas de bairros judeus no Norte da cidade. Horas depois, Telavive alarmava-se com a notícia de que numa das ruas mais movimentadas da cidade um palestiniano atacou uma militar israelita com uma chave de parafusos e conseguiu ferir outras quatro pessoas antes de ser morto por um soldado que estava no local. A notícia ainda estava fresca quando se soube que um colono tinha sido ferido com gravidade no colonato de Kiryat Arba, nos arredores de Hebron, por um homem que se pôs em fuga.

Com o processo de paz parado, têm sido inúmeros os surtos de violência registados no último ano e meio, quase todos tendo como epicentro Jerusalém Oriental, ocupado e anexados por Israel, e sobretudo o quilómetro quadrado que o mundo conhece por Pátio das Mesquitas – recinto que é sagrado tanto para judeus (que o designam Monte do Templo) como para muçulmanos (que o apelidam de Nobre Santuário).

Os palestinianos temem que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ceda à pressão dos fundamentalistas que, com o apoio da direita ultranacionalista, querem que seja levantada a proibição de os judeus rezarem naquele local, num primeiro passo para se apoderar da administração do local. Netanyahu repete que não o fará, mas a disputa sobre aquele recinto tornou-se o símbolo da revolta para uma nova geração de palestinianos, desiludida com o presidente Mahmoud Abbas, descrente nas negociações e furiosa com uma ocupação sem fim à vista.

A tensão voltou a explodir depois de, no dia 1 de Outubro, um casal de colonos ter sido morto à frente dos filhos na Cisjordânia. Dois dias depois, dois israelitas foram mortos à facada na Cidade Velha de Jerusalém, levando o Governo a fechar toda a zona, que inclui o Pátio das Mesquitas, aos palestinianos que ali não residam. A decisão, bem como a ameaça de que os ataques contra israelitas serão punidos com inédita dureza, desencadeou motins que se estenderam da Cisjordânia às cidades árabes de Israel. Nos confrontos com o Exército, dois palestinianos foram mortos e centenas ficaram feridos.

Na terça-feira, foi levantado o bloqueio à Cidade Velha e, na quarta, Netanyahu proibiu ministros e deputados de visitarem o Pátio das Mesquitas, para tentar acalmar a situação. Abbas disse também “não querer uma escalada” e deu ordens às forças da Autoridade Palestiniana para travarem acções que possam agravar a tensão. Mas os seis esfaqueamentos das últimas 48 horas deitam por terra a esperança de um rápido abrandamento da tensão, colocando Abbas e Netanyahu sob pressão dos sectores mais radicais. O jornal Ha’aretz adianta que os serviços de informação temem retaliações de extremistas judeus, como os que em Julho incendiaram uma casa na Cisjordânia, queimando viva uma família palestiniana.

Sugerir correcção
Comentar