Futuro eu, o álbum mais corajoso de David Fonseca

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Não é um álbum de ruptura em relação ao seu passado, nem isso era expectável de alguém como David Fonseca, que ao longo dos anos sempre se foi impondo a partir de coordenadas pop-rock bem definidas, às quais foi sendo capaz de adicionar ideias e elementos novos. No entanto é o seu álbum mais corajoso.

Não é apenas o facto isolado de, pela primeira vez, apresentar um disco totalmente cantado em português.  São todas as consequências indirectas que daí advêm. Em primeiro lugar, apesar de ele não o assumir, existe um cuidado maior com as palavras. Em segundo sente-se uma nova força interpretativa na maior das canções que nem sempre se lhe reconhecia, talvez motivada por essa relação mais intima com as palavras.

Por último é o seu álbum onde a voz, e o que é dito, assume um papel mais preponderante, de tal forma que o design sonoro também se lhe submete. E o resultado é convincente. A fragilidade de outros tempos, ou no extremo oposto, uma certa tentação de grandiosidade, foram-se de vez. Fica um som encorpado, justo e seco, que consegue ser ao mesmo tempo rico e equilibrado.

Futuro eu
Chama-me que eu vou

Claro que existem canções que não custa imaginar que poderão ser sucesso, como a balada orquestral Deixa de ser – com acompanhamento vocal de Márcia – a pop solarenga de Chama-me que eu vou ou ainda o rock emocional de Eu já estive aqui. Mas o que fica, no final, é um conjunto homogéneo de canções. Mesmo quando a inflexão sonora e a interpretação adopta um tom mais grave, como em Agora é a nossa vez, os arranjos são enriquecidos, fazendo subir a temperatura das canções.

Dir-se-ia que a passagem para o português foi realizada com exigência e sem mácula, com David Fonseca a não desvirtuar o seu universo musical, ao mesmo tempo que o complexificou. Coisa rara de se ver, por estes dias, no centro do mercado em Portugal, onde ele se posiciona, dominado pelos subprodutos formatados.

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