Com o melhor dos resultados, a “heroína” Catarina Martins desafia a esquerda

Depois de ter perdido metade dos deputados em 2011, de ter ficado aquém nos resultados das autárquicas e das europeias, e de ter enfrentado uma crise de liderança, o fim do Bloco, que chegou a ser anunciado, foi enterrado nesta noite eleitoral.

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Daniel Rocha
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Com o melhor resultado de sempre da história do Bloco de Esquerda, a porta-voz Catarina Martins está já de olhos postos no futuro. Na noite eleitoral, assegurou que não será pelo BE que a direita formará Governo, garantindo que, caso o Presidente da República convide uma direita minoritária a formar Governo, apresentará uma moção de rejeição no Parlamento. Agora aguarda apenas a “resposta dos outros partidos”.

No Cinema São Jorge, em Lisboa, onde se iam ouvindo palmas a cada distrito em que o BE ia conseguindo eleger, Catarina Martins avisou: “Se, como tudo indica, a coligação de direita não tiver maioria, fique bem claro que não será pelo BE que conseguirá formar Governo. Uma coligação de direita minoritária não será governo em Portugal, se a democracia não lhe der a maioria. Pelo BE não será certamente. A confirmar-se que a direita não tem maioria, se o Presidente da República, por filiação partidária ou pouca atenção aos votos, convidar a direita para um Governo, o BE, como é um partido de palavra, vai rejeitar no Parlamento essa decisão.”

E acrescentou: “Esperamos agora a resposta dos outros partidos, a do Bloco é clara.” Ou seja, para que a moção de rejeição ao programa do Governo tenha efeitos terá de ser aprovada pelos partidos de esquerda, como o PS e a CDU.

O Bloco teve, nesta noite, o melhor resultado de sempre da história do partido, tendo conseguido eleger 19 deputados (o máximo que tinham alcançado foi em 2009, 16 deputados). Nas últimas eleições, em 2011, elegeram apenas oito. Antes de Catarina Martins discursar, o ex-coordenador Francisco Louçã dizia aos jornalistas: Catarina Martins foi a “heroína” desta campanha.

O entusiasmo com que a porta-voz foi acolhida nas ruas, durante a campanha eleitoral, reflectiu-se nas urnas. Depois de ter perdido metade dos deputados em 2011, de ter ficado aquém nos resultados das autárquicas e das europeias, e de ter enfrentado uma crise de liderança, o fim do Bloco, que chegou a ser anunciado, foi definitivamente enterrado com este resultado eleitoral.

Em 2011, o Bloco teve 5,2 por cento; em 2009, 9,8; em 2005, 6,4; em 2002, 2,7; e em 1999, 2,4. Nesta noite, chegaram aos 19 deputados, mais do que a CDU. Elegeram, até à hora de fecho desta edição, em Aveiro, em Braga, em Coimbra, em Faro, em Leiria, em Santarém, cinco deputados por Lisboa, cinco pelo Porto, dois por Setúbal, e pela Madeira.

A deputada eleita por Lisboa, Mariana Mortágua, também terá contribuído para este resultado – durante a campanha, foi várias vezes elogiada pelo desempenho que teve na Comissão de Inquérito do BES. Mortágua deixou uma garantia: “o BE sai reforçado e com responsabilidade para cumprir o compromisso eleitoral que assumimos, defender salários, defender pensões, defender a dignidade do trabalho, combater a austeridade e combater o empobrecimento”, disse antes de os resultados definitivos serem conhecidos.

“Retirar à direita o Governo de Portugal”
A grande preocupação dos bloquistas era que a coligação Portugal à Frente não tivesse maioria absoluta. Esse era também um objectivo do BE, como salientou o líder da bancada parlamentar Pedro Filipe Soares, reeleito por Lisboa. O que o Bloco quer é “retirar à direita o Governo de Portugal e centrar na Assembleia da República, nas deputadas e deputados eleitos a capacidade de fazer as escolhas determinantes”.

O Bloco quer combater as políticas de austeridade – e este foi um aspecto referido por todos os bloquistas durante a noite eleitoral. Sobre o facto de a CDU ter tido um resultado inferior ao do Bloco, Pedro Filipe Soares ressalvou que não entraram nesta campanha em “competição” com os comunistas, mas para derrotar a austeridade.

Eleita pelo Porto, Catarina Martins tem consciência de que “vão ser dias e vão ser anos difíceis”, que se vai “falar muito de crise política, de jogos de influência e de arranjos”. Mas o Bloco não perderá o norte. “O BE nunca esquece o que é verdadeiramente essencial: crise social, dificuldade da vida das pessoas, uma criança em cada três que é pobre, um milhão de desempregados e mais de um milhão de pensionistas com menos de dez euros por dia para ter onde morar, comer e comprar os medicamentos.”

Para defender o que é “essencial”, é preciso “firmeza e cabeça fria”, e Catarina Martins assegurou que  terão, deixando a garantia de que “o BE não desiste de Portugal, de quem trabalha, de quem trabalhou toda uma vida e não se conforma com a emigração.”

Catarina Martins congratulou-se pelo facto de o partido ter tido o “melhor resultado de sempre numas eleições”, com “mais votos, mais mandatos e mais força do que nunca”. E garantiu ao “mais de meio milhão de eleitores que depositaram a sua confiança” no BE que vai cumprir a sua palavra.

Antes, Francisco Louçã considerou que o BE fez “o melhor contributo que era preciso” fazer para vencer a direita, “não foi o BE que faltou a esse combate”.

Resultados completos e comparativo com 2011

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