EUA e Rússia já começaram conversações militares sobre a Síria

Governo de Moscovo disponível para enviar tropas para o terreno, se Bashar al-Assad o pedir. O objectivo é ajudar a derrotar o Estado Islâmico.

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A guerra na Síria, que dura há quatro anos e meio, já matou 240 mil pessoas Alaa Al-Faqir/Reuters

Os ministros da Defesa americano e russo, Ashton Carter e Sergei Shoigu, falaram esta sexta-feira ao telefone, no primeiro contacto visando a cooperação dos dois países no combate ao autoproclamado Estado Islâmico. Pouco antes deste anúncio, o Governo de Moscovo disse estar pronto para enviar tropas para a Síria, caso as autoridades de Damasco o peçam.

As primeiras conversações telefónicas foram classificadas de "construtivas" pelo porta-voz do Pentágono, Peter Cook. A discussão, disse o porta-voz russo, Igor Konachenkov, revelou que "os pontos de vista estão perto de ser idênticos na maior parte dos problemas falados".

"A necessidade de coordenar esforços bilaterais e multilaterais para combater o terrorismo internacional esteve no centro da conversa", disse Konachenkov, citado pela agência Itar-TASS.

Os contactos surgem na sequência de declarações feitas pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que defendeu a realização de conversações "de militares para militares". O contacto entre os militares americanos e russos é a "próxima etapa importante", disse o secretário de Estado americano, John Kerry, que numa semana reuniu três vezes com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov.

Os Estados Unidos lideram uma coligação internacional que combate, através de bombardeamentos aéreos, o Estado Islâmico que conquistou um importante território na Síria e no Iraque e tem implantação em muitos países do Médio Oriente e Norte de África. A Síria está também mergulhada numa guerra entre o Exército de Assad e forças armadas de grupos da oposição que querem derrubar o regime de Damasco.

Enquanto decorrem as movimentações diplomáticas e militares entre os dois países, Moscovo avançou que, se o Presidente sírio, Bashar al-Assad, quiser, a Rússia está disponível para enviar tropas para o terreno, para ajudar este país a lutar contra os jihadistas do Estado Islâmico. O Presidente russo, Vladimir Putin, tem sido um aliado de Assad, nunca escondendo os contratos de fornecimento de armas às forças armadas do Governo de Damasco. Nas últimas semanas, Moscovo — que durante meses tentou formar uma coligação anti-jihadista que incluísse Assad — deu passos que mostram a sua vontade de agir mais directamente contra o Estado Islâmico.

Porém, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, frisou que esta é, para já uma solução "hipotética". "Ainda é difícil falar neste assunto porque é hipotético", disse Peskov.

Na quarta-feira, o chefe da diplomacia síria, Walid Mouallem, declarara que "até ao momento" não há tropas russas a combater, mas "se for necessário estudaremos [essa possibilidade] e faremos um pedido". "Quanto tal for necessário, ninguém poderá travar essa cooperação" com a Rússia, disse o porta-voz.

O Governo americano acusou a Rússia de estar a aumentar a sua presença militar na Síria, nomeadamente em Lattaquié, onde os responsáveis da Defesa de Washington dizem que Moscovo está a construir uma base aérea. Oficialmente, a presença militar russa na Síria está limitada ao porto de Tartus, no Mediterrâneo.

Kerry disse que o diálogo "entre militares" russos e americanos vai evitar incidentes entre as forças dos dois países no terreno.

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