Família do menino afogado estaria a tentar chegar ao Canadá

Jornalistas na Turquia, Canadá e Síria contam que a família do pequeno Aylan viu recusado um pedido de asilo em Junho. Só o pai sobreviveu

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Foto que acompanha a notícia do jornal canadiano National Post identificando Aylan e Galip DR

O menino que morreu afogado depois de o seu barco naufragar entre a Turquia e a ilha grega de Kos tornou-se símbolo de muitas mortes invisíveis e anónimas, de um fluxo de pessoas desesperadas por chegar à segurança de um país em paz.

Esta quinta-feira, para além da imagem publicada em jornais e partilhada nas redes sociais, revelou-se parte da história do menino e da sua família curda da Síria. Soube-se o seu nome, Aylan, a sua idade, três anos, que tinha um irmão, Galip de cinco anos, e que a mãe se chamava Rehana, 35 anos. Soube-se que os três morreram ao tentar chegar à Grécia.

Sobreviveu o pai, Abdullah Kurdi, que pagou 4000 euros pela viagem num barco de borracha de cinco metros onde iam pelo menos 12 pessoas, segundo a jornalista da emissora Al-Aaan, do Dubai, Jenan Moussa.

Uma hora depois de sair do ponto da costa turca mais perto de Kos, a viagem começou a tornar-se problemática. O turco que levava o barco desapareceu rapidamente. Outra hora passou e o barco acabou por afundar.

Abdullah terá tentado agarrar-se ao barco, e ao mesmo tempo segurar a mulher e dois filhos, mas um após outro, todos foram levados pelas ondas. A única coisa de que o pai fala agora é levar a família de regresso à Síria para a poder enterrar em Kobane, de onde desesperadamente fugiu. A família saiu de Damasco em 2012 e depois mudou-se para Kobane, tendo fugido daí para a Turquia quando a cidade foi tomada pelos jihadistas do grupo Estado Islâmico.

Uma irmã de Abdullah vive em Vancouver há mais de 20 anos e contou a um jornalista do diário canadiano National Post que soube do sucedido por um telefonema de uma cunhada. Abdullah tinha ligado com a terrível notícia.

Teema contou ainda ao jornalista que tentava que a família conseguisse asilo no Canadá através de um procedimento chamado G5, em que cinco cidadãos canadianos podem apoiar uma candidatura desde que dêem aos refugiados apoio emocional e financeiro. Ela conseguiu que amigos e vizinhos se juntassem para isto.

Mas para que este pedido seja aceite, os candidatos têm de ser formalmente considerados refugiados pela ONU ou por um outro estado. O problema da família é que na Turquia não conseguiram documentos para sair nem registo como refugiados – o que não é raro acontecer com curdos na Turquia.

Em Junho, o pedido da família foi recusado pelas autoridades do Canadá, devido às complexidades do processo na Turquia, segundo o National Post, ou porque as autoridades consideram que os refugiados que estão neste país estão em segurança, segundo a Al-Aan.

Foi depois disso que consideraram outras alternativas para sair da Turquia, e segundo a Al-Aan esta não foi a primeira tentativa. Ficar lá não era uma opção. “Os curdos sírios são muito mal tratados”, explicou ao National Post a irmã Teema, que ainda não tinha desistido de voltar a tentar outra candidatura de asilo para a o irmão e a sua família.

 “Esta é uma notícia horrível”, comentou um deputado do círculo local, Fin Donnelly, que acompanhou o processo de pedido de asilo. “A frustração de esperar e os efeitos da inacção foram terríveis.”

Mas agora Abdullah Kurdi já não quer ir para o Canadá. Aos jornalistas que o ouviram à porta da morgue da cidade de Mugla perto de Bodrum, onde ocorreu o naufrágio, disse, desfeito em lágrimas, queria voltar para Kobane para enterrar a família. “Só isso poderá aliviar a minha dor”.

“Os meus filhos eram as crianças mais bonitas do mundo. Há alguém no mundo que não considere os seus filhos a coisa mais preciosa da vida?”, disse Abdullah. “Eu perdi tudo”.

 

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