Alguma intriga política e pouco mais nos mails de Hillary tornados públicos

Departamento de Estado garante que publicará a totalidade da informação armazenada no servidor pessoal de Hillary Clinton até ao fim do ano. Dos mais de 4300 e-mails tornados públicos na segunda-feira, 125 foram classificados como "confidenciais".

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Hillary Clinton (em campanha no Iowa na última quarta-feira) já admitiu que uso do endereço pessoal foi um "erro" REUTERS/Scott Morgan/Files

O Departamento de Estado norte-americano divulgou mais sete mil páginas de mensagens guardadas no servidor particular de Hillary Clinton, que usou o seu endereço electrónico individual para a correspondência oficial enquanto ocupou o cargo de secretária de Estado –uma prática que, segundo a oposição republicana à agora candidata presidencial do Partido Democrata, constitui um “escândalo de segurança nacional” e demonstra que Hillary Clinton “não é de confiança”.

Dos 4368 e-mails publicados na segunda-feira à noite, quase todos relativos a correspondência de 2009 e 2010, 125 foram imediatamente classificados como “confidenciais” pelo Departamento de Estado. A classificação veio levantar dúvidas sobre a garantia, dada por Hillary Clinton e os seus advogados, de que nunca houve informação “sensível” para os interesses norte-americanos a circular em endereços “desprotegidos” – o próprio Departamento de Estado precisou que, à luz dos regulamentos da época, nenhum desses documentos estaria classificado.

A antiga senadora e ex-secretária de Estado já reconheceu que a sua opção por manter o uso do seu endereço electrónico pessoal, por razões de “conveniência”, foi um “erro”, e que teria sido mais prudente utilizar a caixa de correio oficial. Apesar de ninguém questionar a legalidade do expediente (também utilizado por antigos secretários republicanos, como Colin Powell e Condoleeza Rice), a polémica tem sido aproveitada pela oposição para questionar o seu carácter e aptidão para governar o país: “Em centenas de ocasiões, as ridículas tentativas de Hillary Clinton para tornear as leis relativas à transparência governamental puseram a segurança nacional em risco”, criticou o presidente do Comité Nacional Republicano, Reince Priebus. “O FBI tem de continuar a investigar este escândalo”, exigiu.

Os e-mails classificados – que foram amplamente editados, com largos parágrafos cortados – incluem mensagens trocadas por Hillary Clinton e vários governantes estrangeiros no rescaldo do escândalo que ficou conhecido como o “Cablegate”, quando mais de 250 mil telegramas diplomáticos dos EUA foram publicados pela Wikileaks. Aliás, uma mensagem redigida pelo conselheiro jurídico do Departamento de Estado e reenviada ao director do Wikileaks mostra que Clinton tentou sensibilizar Julian Assange a suspender a publicação do material, para não pôr em risco “incontáveis vidas de inocentes, operações militares em curso e a cooperação com países aliados”.

Para já, só 25% do conteúdo do correio electrónico de Hillary no Departamento de Estado foi tornado público, em cumprimento de uma ordem judicial que obriga à sua divulgação integral. Os serviços dipomáticos garantiram que a totalidade da correspondência armazenada no servidor pessoal de Hillary, mais de 30 mil e-mails, será revista, editada (se necessário) e publicada até ao final do ano.

A maior parte das mensagens conhecidas na segunda-feira à noite não tem grande interesse político: dizem respeito à agenda diária, planeamento e logística do cargo de secretária de Estado; têm a ver com questões técnicas ou então são referências ou cópias de documentos públicos – relatórios, artigos de jornal – enviados para Hillary pelos seus assessores e conselheiros políticos e vice-versa. Também há algumas mensagens privadas trocadas com a filha, Chelsea, sobre assuntos do quotidiano familiar ou outros (por exemplo, uma delas é uma longa redacção de Chelsea após uma visita ao Haiti), que os advogados de Hillary pretendiam manter fora do domínio público.

Mas inevitavelmente, há mensagens suficientes para entreter os jornalistas e comentadores que vibram com a intriga política de Washington, e que poderão agora ler nas entrelinhas o jogo de alianças e a definição de estratégias políticas para a eventual construção de uma campanha presidencial por parte de Hillary Clinton e a sua equipa.

Igualmente interessantes são as referências e comentários trocados entre Hillary e o seu círculo restrito de conselheiros sobre a uma série de líderes e personalidades nacionais e internacionais: o seu congénere russo, Sergei Lavrov, o então recém-eleito líder do Partido Trabalhista britânico, Ed Miliband, o general David Petraeus ou o speaker do Congresso, John Boehner.

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