Santana Lopes desistiu da candidatura por causa do "chamamento" da Santa Casa

Antigo líder do PSD diz que quando mostrou disponibilidade para uma candidatura presidencial não sabia que Marcelo Rebelo de Sousa seria mesmo candidato a Belém.

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Pedro Santana Lopes ENRIC VIVES-RUBIO

Pedro Santana Lopes assumiu esta sexta-feira que era o candidato mais bem preparado para o cargo de Presidente da República, mas revelou que “não sentiu forças para se desvincular da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”, onde é provedor. Um dia depois de ter anunciado que desistiu de uma candidatura às eleições presidenciais de 2016, Santana Lopes revelou que a decisão foi tomada há algumas semanas, depois de uma reflexão consigo próprio.

“Nestas semanas procurei, rezando, pensando no que a vida me tem proporcionado, e procurei ser humilde na decisão [de não me candidatar] e disse: 'eu tenho que servir no local para onde fui chamado, porque continuo a sentir o chamamento'. Nestas semanas, sozinho comigo a pensar para dentro de mim não consegui forças para me desvincular da Santa Casa”, declarou esta sexta-feira à noite à SIC-Notícias.

Perante as câmaras de televisão, o antigo primeiro-ministro disse que não se revia no tipo de pré-campanha das presidenciais que estava ser feita e por diversas vezes auto-elogiou-se. “Eu conheço a realidade do país, desculpe a presunção, como nenhum dos candidatos que estão anunciados, não tenho dúvida nenhuma sobre isso. Agora a questão é uma ponderação muito difícil. Peço às pessoas para se porem no meu lugar”, afirmou o provedor, o primeiro a posicionar-se para protagonizar uma candidatura a Belém. Foi em Janeiro deste ano, atirando uma decisão para Março. Correu o país de Norte a Sul, recebendo o apoio de muitos autarcas do PSD do interior e chegou mesmo a criar-se uma onda de apoio à sua candidatura. Mas depois percebeu que era impossível ser candidato a Belém e ao mesmo tempo ser provedor da Santa Casa, porque a partir do momento em que anunciasse a candidatura teria de abandonar funções, trocando o certo pelo incerto. E na SIC insurgiu-se contra o facto de não poder suspender o mandato de provedor. Mais tarde mudou de ideias e apontou um novo timing que seria depois das legislativas de 4 de Outubro, como fizera Marcelo Rebelo de Sousa. Recentemente voltou a mudar de ideias e disse que as candidaturas podiam ser apresentadas até um mês antes das eleições.

O antigo autarca de Lisboa decide afastar-se da corrida duas semanas depois de Marcelo ter dado uma entrevista ao Diário de Notícias, que foi vista como um dos sinais que a candidatura está em marcha. “Já perguntei aos filhos e netos o que pensam sobre as presidenciais”, revelava o professor de Direito e comentador político, que é o visto como o candidato da área do centro-direita mais bem colocado para disputar as presidenciais.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa confessou que se tratou de uma decisão “muito difícil” e revelou que quando em Janeiro admitiu a possibilidade de concorrer não acreditou que “Marcelo Rebelo de Sousa fosse mesmo candidato”.

Puxando dos seus galões de ex-primeiro-ministro, de ex-presidente de câmaras, de ex-secretário de Estado da Cultura (…), Santana acredita que se entrasse na corrida teria uma percentagem mínima. “Tenho a certeza absoluta que mesmo sem cartazes, sem outdoors, não teria uma percentagem mínima, não teria abaixo dos 10 a 15%”, vaticinou, negando que a falta de dinheiro para custear a sua campanha foi um problema.

“Aquilo que eu tive de pensar interiormente foi até que ponto estou a ser presunçoso, quando penso que o meu dever maior era candidatar-me à Presidência da República”, afirmou, acrescentando que na rua “muita gente dizia-me para não que não me candidate e que continuasse como provedor - 'está a fazer um grande trabalho'”. “Quem está na vida política e quem quer liderar tem que ir pela sua razão, pelo seu sentimento, pela sua intuição. Eu tenho dimensão humana e procuro decidir como deve de ser, com base em princípios”, declarou, condenando a “democracia que é feita de combinatas e de truques”. “Há jogadas com as quais não participo”, sublinhou.

Questionado sobre se vai apoiar Marcelo ou Rui Rio, o antigo presidente do PSD não revelou para quem vai o seu voto.

Para o PSD, a desistência do antigo primeiro-ministro coloca pressão sobre Rui Rio, mas apoiantes do ex-presidente da Câmara do Porto refutam esta leitura e afirmam: “A candidatura do antigo líder do partido era irrelevante tanto para Rio como Marcelo”. Dizem também que “Rio não se deixa condicionar”.

Com as “questões pessoais, politicas, financeiras e logísticas” resolvidas, tal como o PÚBLICO revelou há uma semana, Rio parece reunir as condições para protagonizar uma candidatura presidencial, que pode ser apresentada ou nos primeiros dias de Setembro (o ex-autarca regressa segunda-feira de férias) ou depois das legislativas. Consideram que é “vantajoso” que Rio se antecipe a Marcelo. É que – dizem – “o professor criou no imaginário público que Outubro é o seu tempo e se Rio se antecipar a este timing não pode ser acusado de estar a trair Marcelo”.

Aparentemente, indiferente à decisão e Santana Lopes, Rui Rio está em período de reflexão e não fala com ninguém a não ser consigo próprio. Os seus apoiantes, que aguardam ansiosamente por um sinal, gostariam que a candidatura fosse anunciada antes do primeiro debate das eleições de 4 de Outubro, entre António Costa e Pedro Passos Coelho, marcado para 9 de Setembro.

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