Os deuses devem estar loucos

Uma actualização desastrada e falsamente transgressiva de um texto da Antiguidade Clássica

Foto
Metamorfoses: desastrado DR

Não se pode levar a mal Christophe Honoré por ter decidido pegar nas Metamorfoses de Ovídio para delas fazer uma leitura/transposição contemporânea, algures entre uma pastoral perdida e a crise identitária da França contemporânea.

Da última vez que o cineasta tentou o truque, com a sua versão liceal da Princesa de Clèves, o resultado foi A Bela Junie, provavelmente ainda o seu melhor filme (em Portugal saiu directo em DVD sem passar pela sala) – mas esta selecção de “episódios escolhidos” do poema mitológico é francamente mais desastrada, afundando-se numa espécie de Pasolini hipster de trazer por casa, falsamente transgressivo e incapaz de evocar a poesia pretendida. É como se Honoré partisse do pressuposto que um conceito intrigante insuficientemente trabalhado e um tom de realismo mágico pós-moderno seriam suficientes para sustentar o filme. Vai-se a ver, não são.
Sugerir correcção
Comentar