Foz do rio Mira vai ser dragada para que praias de Milfontes ganhem areia

Há muito que se vê um banco de areia a crescer no meio do rio enquanto as praias vão ficando despidas. A obra é exigida há muito mas ainda não há prazos para avançar. O estudo está agora em consulta pública

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Tanto as praias estuarinas de Milfontes, como aquela que está virada para o Atlântico têm estado a perder areia Nuno Alexandre Mendes

A areia tem-se vindo a acumular no leito do Mira e a desaparecer das praias da Franquia e das Furnas, no estuário do rio, e da do Carreiro da Fazenda, já virada para o Atlântico. Para inverter este problema, que ameaça até a avenida marginal de Vila Nova de Milfontes, os sedimentos vão ser dragados para serem colocados nas praias e dunas desta zona. Para isso, está em consulta pública até 17 de Agosto o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da obra que pretende, também, melhorar as condições de navegabilidade no canal principal do rio.

Da responsabilidade do Programa Polis Litoral Sudoeste - Sociedade para a Requalificação e Valorização do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, a empreitada prevê a dragagem de um volume de sedimentos que varia entre os 70 e os 140 mil metros cúbicos, nos três cenários (A,B e C) e dois alternativos (B1 e C1) propostos para a intervenção no banco arenoso, que separa o principal canal de navegação do Mira próximo da praia das Furnas, que se situa na margem esquerda do rio, e um canal periférico, próximo da praia da Franquia, localizada na margem direita junto a Milfontes.

O EIA avisa que, caso não se intervenha nesta zona do estuário do Mira, continuará a crescer o banco arenoso no meio do rio e as praias continuarão a perder areia. Segundo um estudo feito pela empresa Nemus-Gestão e Requalificação Ambiental para a Sociedade Polis, o espaço balnear estuarino foi sendo destruído pela corrente do rio, colocando em causa a estabilidade da avenida marginal de Vila Nova de Milfontes, afectada por sucessivos aluimentos de terra provocados pela progressiva erosão do cordão dunar devido ao assoreamento da foz do rio Mira. Desta forma, a praia da Franquia foi sendo despojada de areia, o que levou ao desmoronamento de barreiras de suporte da via de acesso ao local. O problema estará sobretudo no aumento da velocidade da corrente do rio Mira durante a vazentes devido ao assoreamento do estuário, conclui.

Para minimizar este fenómeno foram estudados vários cenários de intervenção para travar a erosão. Qualquer deles propõe a dragagem do canal principal do estuário do rio. Com os sedimentos recolhidos far-se-á a reposição das areias numa extensão de cerca de 550 metros na praia da Franquia e, com os inertes remanescentes, fica garantido o reforço do sistema dunar entre a avenida marginal adjacente à praia da Franquia e a praia do Carreiro da Fazenda, que fica na frente oceânica. A praia das Furnas também receberá areias excedentárias.

Nas áreas onde se propõe reconstruir as dunas quer na praia da Franquia quer entre esta zona balnear e a do Carreiro da Fazenda, o EIA realça a necessidade de ali se colocar vegetação para estabilizar as areias. As plantas já existem no local, o que obrigará à sua transplantação e reutilização.

Além da reconstrução dunar e da transposição da vegetação, o projecto prevê a necessidade de colocação de estruturas de retenção de areias, em particular na duna frente ao oceano Atlântico, de forma a promover a sia estabilização e proteger a vegetação a transplantar.

José Alberto Guerreiro, presidente da Câmara de Odemira, diz que a autarquia já reclama “há muitos anos” o desassoreamento da foz do rio Mira, frisando que a intervenção “é indispensável porque a mais-valia que a praia representa para Vila Nova de Milfontes é muito grande, tanto do ponto de vista económico como ambiental”. Por outro lado, há a questão da navegabilidade do rio, que “está condicionada e é fundamental” sobretudo para o sector pesqueiro, assinala o autarca.

O PÚBLICO pediu a Paulo do Carmo, Coordenador da Quercus no Litoral Alentejano, que comentasse o EIA para o desassoreamento do estuário do rio Mira mas o dirigente ambientalista disse não ter recebido o documento, escusando-se a tecer comentários. No entanto adiantou que, “por princípio a associação não é contra as dragagens, tendo-se é de saber os impactes que provocam”. E espera que o EIA acautele "a riqueza ambiental e a biodiversidade” do meio onde vai decorrer a intervenção.

Resta saber quando terá início a obra. O presidente da Câmara de Odemira chegou a anunciar que “antes do Verão“ que está a decorrer pudessem ter início as dragagens de sedimentos. No entanto o processo ainda está na fase de discussão pública, tendo ainda que ser aprovado pelo Ministério do Ambiente.

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