Syriza aprova congresso extraordinário e reforça autoridade de Tsipras

Maioria do comité central votou a favor da proposta do seu líder e contra a ala considerada mais radical, que defende o fim do acordo com a troika.

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Alexis Tsipras desafia quem acha que há alternativas ao acordo Yiannis Kourtoglou/Reuters

O primeiro-ministro grego e líder do Syriza, Alexis Tsipras, venceu um importante combate contra os representantes da ala mais radical do seu partido, ao convencer a maioria do comité central a organizar um congresso extraordinário em Setembro, depois de as negociações com a troika ficarem fechadas.

Em causa está a oposição interna da Plataforma de Esquerda, uma ala liderada pelo ex-ministro da Energia Panagiotis Lafazanis, que se recusa a aceitar o acordo assinado em Bruxelas pelo Governo grego e que acusa Alexis Tsipras de ter traído a vontade popular manifestada no referendo do dia 5 de Julho – uma consulta em que 61 por cento dos votantes disseram "não" às propostas dos credores que estavam então em cima da mesa.

Essa divisão teve reflexos no Parlamento, na votação das medidas que acabaram por ser impostas pela troika, com o governo grego a ter de depender da oposição do centro-direita para obter o apoio necessário. Apesar de contar com os 13 votos do seu parceiro de coligação (os Gregos Independentes, da direita nacionalista), o Syriza deixou de contar com os votos de todos os seus 149 deputados – num Parlamento com 300 lugares, as medidas impostas pela troika têm sido aprovadas com os votos da Nova Democracia, do centro-direita, que tem 76 deputados.

Perante esta dependência da oposição, Alexis Tsipras dirigiu-se na quinta-feira aos 201 membros do comité central do Syriza e propôs duas saídas: ou os deputados que o acusam de ter traído a vontade popular voltavam a apoiar o governo, ou seria marcado um congresso extraordinário para Setembro. Em alternativa, numa espécie de atalho para resolver a questão com mais rapidez, poderia ser convocado um referendo interno para este domingo, em que os militantes diriam se concordam com o caminho de Tsipras ou com o caminho da Plataforma de Esquerda.

A discussão arrastou-se pela noite dentro, mas esta última sugestão foi a primeira a ser afastada pela ala que tem defendido o fim do acordo com a troika, a saída da zona euro e o regresso à dracma.

"Quantos referendos vamos realizar? Já fizemos um, e ganhámos com 62 por cento dos votos", declarou Panagiotis Lafazanis, o ex-ministro da Energia que Alexis Tsipras substitui no governo há duas semanas, numa remodelação que teve como objectivo afastar os rostos considerados mais radicais.

Na reunião de quinta-feira, a Plataforma de Esquerda deixou claro que preferia a realização de um congresso, mas não extraordinário – a diferença é que uma reunião extraordinária exige uma nova eleição de delegados, o que favorece a entrada no comité central de mais apoiantes de Alexis Tsipras. Apesar da contestação interna, o líder do Syriza e primeiro-ministro continua a recolher o apoio da maioria, tanto no partido como no país, e poderá beneficiar da sua crescente popularidade para estabilizar o cenário político na Grécia.

Durante a sua intervenção na reunião do comité central – que foi transmitida em directo por várias rádios e canais de televisão do país –, Tsipras acusou os militantes que defendem o fim do acordo com a troika de estarem a abrir a porta à queda do governo.

"O primeiro governo de esquerda desde a II Guerra Mundial terá o apoio de deputados de esquerda, ou cairá por causa de deputados de esquerda", afirmou.

Antes, o primeiro-ministro e líder do Syriza tinha respondido aos que o acusam de ter traído o resultado do referendo de 5 de Julho: "Estamos a dizer ao povo grego, alto e bom som, e sem arrependimentos, que este foi o acordo possível, e se alguém acredita que poderia fechar um acordo melhor, então que o diga. Se alguém acha que Tsipras e o Syriza recusaram uma alternativa melhor para o povo, deve dar a cara e afirmá-lo."

Alexis Tsipras disse também que é preciso garantir a conquista de "pequenas vitórias", e que é na esquerda que a Grécia pode encontrar "a única garantia de um governo progressista".

"Nós, com um governo de esquerda num país pequeno, criámos as primeiras divisões na hegemonia neoliberal da Europa", disse o primeiro-ministro grego, colocando em primeiro plano a estratégia de negociações com a troika desde que o seu partido chegou ao governo, em Janeiro, e assumindo uma postura mais pragmática em relação ao acordo em si: "Sair do euro sem qualquer possibilidade de apoio económico, e sem reservas externas, teria como resultado uma enorme desvalorização, austeridade severa e um pedido de apoio ainda maior ao Fundo Monetário Internacional. Quem não aceitar isto, ou é deliberadamente cego, ou está a esconder a verdade."

De acordo com o relato do jornal grego Kathimerini, a presidente do Parlamento, Zoe Konstantopoulou, e o ex-ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, foram os mais duros nas críticas a Tspiras. Enquanto Lafazanis afirmou que a Grécia vive debaixo de uma "ditadura do euro", e sugeriu que o país use os 35 mil milhões de euros de reservas financeiras para atenuar o regresso à dracma, Konstantopoulou disse ser "inconcebível" que o Syriza faça "exactamente o oposto daquilo que prometeu antes das eleições".

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