Palavras e acções do Estado chinês não dissipam nervosismo dos investidores

Esta terça-feira foi marcada por novas descidas do mercado de acções chinês, embora menos expressivas do que na segunda-feira.

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AFP PHOTO / FRED DUFOUR

As medidas tomadas por Pequim para estabilizar o mercado parecem não estar a surtir efeito, depois de, na segunda-feira, as principais praças terem registado a maior descida desde Fevereiro de 2007. E, esta terça-feira, apesar de a quebra abrandar, as bolsas de Xangai e Shenzen voltaram a encerrar em terreno negativo, o que confirma que os mercados não estão estáveis e que os investidores não estão a reagir bem, apesar de todas as medidas interventivas aplicadas pelo Estado.

A volatilidade do mercado chinês, tantas vezes referia pelos analistas, foi comprovada pelas abruptas quedas da bolsa do início desta semana, apesar da intervenção estatal de 8 de Julho. Após três semanas de relativa estabilidade, o receio de que a economia chinesa esteja a abrandar continua fazer-se sentir na cotação das empresas e banca chinesa, com sobressaltos na economia mundial.

Apesar de o gabinete oficial de estatísticas chinês garantir que o país cresceu 7% no primeiro trimestre de 2015, as desconfianças multiplicam-se, com a percentagem do crescimento a bater exactamente nas previsões governamentais. Já em 2014 o Produto Interno Bruto tinha crescido 7,4%, o valor mais baixo dos últimos 24 anos.

O principal índice de Xangai, o SSE Composite, que tinha desvalorizado 8,48% na segunda-feira, fechou a sessão desta terça-feira a perder 1,68%. O CSI Index, da bolsa de Shentzen, que tinha encerrado 8,56% em terreno negativo, apesar de abrandar, fechou a perder 0,2%. Em sentido inverso, o principal índice de Hong Kong (em zona administrativa especial, mas muito permeável às variações dos dois índices em queda), teve uma recuperação quase inexpressiva, de 0,62%. Isto após as autoridades chineses terem dito que estão prontas a continuar a agir para estabilizar o mercado, podendo reforçar a sua intervenção.
 
A compra de acções dos bancos estatais chineses ajudou a minimizar as perdas nesta sessão de terça-feira. No entanto, o Financial Times avança com a hipótese de um maior volume de compra de acções destas entidades bancárias se dever a investidores com orientações do estado chinês, com o intuito de apoiar o mercado.

Já a Reuters sugere que o volume de venda registado na sessão de segunda-feira pode ser resultado de um teste das autoridades chinesas, a apalpar terreno para retirar as medidas de auxílio. O teste mostra que o mercado ainda não está preparado para que sejam retirados os apoios. “Lição aprendida: o sentimento do mercado está manifestamente muito frágil”, resumiu à Reuters um analista.

Apesar das quedas consideráveis, o mercado de capitais chinês ainda se encontra com uma variação positiva de 60% em relação a igual período do ano anterior.

Ao mesmo tempo que o mercado bolsista do maior cliente de matérias-primas atravessa um período turbulento, o preço destas também está sob forte pressão: O preço do ouro e do cobre têm sido afectados, e o petróleo continua também a ser pressionado. No caso do ouro, por exemplo, está em mínimos dos últimos cinco anos.

O impacto faz-se sentir nas moedas de países emergentes, exportadores de matérias-primas, que viram o valor das suas moedas afundar. Isto numa conjuntura em que a Reserva Federal norte-americana poderá dar novos sinais de começar a subir a sua taxa de juro de referência, aumentando a pressão sob estes países, com a saída de dinheiro de investidores. Esta terça-feira o Financial Times destacava que várias moedas de mercados emergentes asiáticos recuaram para mínimos de 15 anos. 

Depois de afectadas pelas quedas de segunda-feira, os principais índices das praças europeias fecharam a sessão de terça-feira em alta ligeira.   

Golpe e contra-golpes
No início de Junho, as principais bolsas chinesas chegaram a registar ganhos de 150% em relação ao ano anterior. No entanto, os administradores das grandes empresas cotadas em bolsa, cientes de que o mercado estaria a atingir um pico, já se tinham começado a desfazer das acções em Maio. A 19 de Junho, a trajectória descendente tornava-se óbvia, com o mercado chinês a registar a pior semana desde a crise de 2008.

No mercado de acções do gigante asiático perderam-se 2,7 biliões de euros e a bolsa de Xangai perdia 31% do seu valor até 8 de Julho, dia em que a administração liderada por Xi Jinping aplicava medidas restritivas ao mercado.

A descida das taxas de juro pelo banco central chinês foi a primeira medida implementada, mas não teve o efeito desejado e as acções continuaram a cair. Os passos seguintes dados pelas autoridades passaram por facilitar a obtenção de crédito, anular as emissões de novas acções que estavam já agendadas e garantir que o banco central providenciaria toda a liquidez necessária para que os investidores fizessem compras, com o intuito de voltar a subir o valor das acções. A suspensão provisória da transacção de acções por mais de 1300 empresas cotadas foi outro dos mecanismos encontrados para impedir que estas desvalorizassem ainda mais. 

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