"El Chapo" fugiu por um túnel construído por cúmplices dentro e fora da prisão

Esta fuga é um duro golpe na luta contra o narcotráfico do Presidente Peña Nieto e na construção de um Estado de Direito no México.

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A entrada do túnel por onde "El Chapo" fugiu, na ala dos chuveiros da prisão de alta segurança AFP

O Governo Federal mexicano ordenou uma investigação para apurar quem faz parte da rede de contactos, externos e internos, que permitiram que um dos maiores narcotraficantes do mundo, Joaquín "El Chapo" Guzmán, fugisse da mais segura prisão do país, no sábado à noite.

As autoridades políticas tentam, com esta operação que já levou à detenção do director da prisão de Altiplano e de outras 30 pessoas, atenuar o golpe que esta fuga significa para o sistema de segurança, para as instituições e para o próprio Presidente, Enrique Peña Nieto, eleito há três anos com a promessa de acabar com o poder paralelo do crime organizado e fazer do México um Estado de Direito.

Quando "El Chapo" Guzmán foi capturado, há 16 meses — pela segunda vez, já fugira de uma cadeia em Jalisco há 14 anos, oficialmente dentro da carrinha da lavandaria —, Nieto acreditou que a máquina de combate ao crime organizado que montou estava a resultar, tendo até conseguido capturar o perigoso chefe do cartel de Sinaloa, o homem mais procurado do México e dos Estados Unidos (país que quis a sua extraditação para o encerrar numa das suas prisões), e também outros poderosos, como os chefes dos Zetas e dos Caballeros Templarios.

Porém, toda a confiança na "nova era" — como disse o Presidente mexicano, apanhado por esta notícia fora do país, em França — ruiu ao saber-se que tudo o que Guzmán precisou de fazer para ficar novamente em liberdade foi ir ao chuveiro da prisão de alta segurança de El Altiplano, a 90km da Cidade do México.

Ali, desceu por um escadote para o túnel que os seus cúmplices escavaram, fez o percurso de quilómetro e meio e saiu do outro lado, dentro de uma casa em obras. Tão bem foi feito este túnel que "El Chapo" não precisou de rastejar — tem 1,70m de altura e 80 centímetros de largura, está equipado com sistema de ventilação e iluminação, e tem montado um sistema de carril sobre os quais estava o mecanismo usado para transportar a terra. O túnel, concluíu o jornalista do Los Angeles Times na Cidade do México, é "uma pequena obra de engenharia".

Ainda há perguntas a que os investigadores não sabem responder, e todas elas se relacionam com nomes. Porque todas as outras interrogações estão respondidas — Guzmán teve o apoio de uma equipa, que não foi pequena, do lado de fora da cadeia mas também do lado de dentro. Procura-se agora identificar os culpados — um deles será alguém importante, uma vez que a construção do túnel careceu dos planos da prisão, documento classificado de secreto por ser um lugar de alta segurança e só acessível a poucos.

Mais de 30 funcionários estão detidos, cerca de metade deles funcionários da prisão — o director de El Altiplano, Valentín Cárdenas Lerma, o subdirector, membros do sistema de vídeovigilância e até pessoal da enfermaria que fornecia os medicamentos de que Guzmán precisava.

Uma das linhas de investigação é a improbabilidade — ou a enorme falha — de o sistema de segurança da prisão não ter detectado as obras no subsolo. Sabe-se que na zona realizaram-se obras de substituição de condutas de água e que por ali circularam muitas dezenas de trabalhadores e máquinas pesadas. Mas só durante dois dias no início de Julho estas obras estiveram mesmo coladas à prisão, um tempo insuficiente para a construção do túnel da fuga.

"El Chapo", um criminoso conhecido por infligir mutilações, decapitações, assassínios em massa e por ter uma rede de produção e distribuição de droga em dez países — com uma rede de 299 empresas que empregam milhares de pessoas—, está de novo à solta.

E a Peña Nieto, diz o jornal El Universal, só restam duas opções: recapturar ‘El Chapo’, sob pena de fazer crescer ainda mais o seu nome — há quem lhe chame "mito" e fale na sua "lenda" —, e actuar de maneira "exemplar" contra os funcionários que permitiram "esta triste episódio da história da segurança nacional".
 

   

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