Em resposta à oposição, Dilma garante que “não tem base” para demissão ou impugnação

Presidente do Brasil contra-ataca após ofensiva dos sociais-democratas: a oposição está a confundir os seus desejos com a realidade, diz em entrevista à Folha de São Paulo

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A Presidente brasileira desafiou a oposição a provar que "pegou um tostão" de dinheiro sujo REUTERS/Stephen Lam

A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, antiga guerrilheira e presa política da ditadura militar, diz que a barragem de fogo contra ela própria e o seu Governo é “moleza”, e garante que não vai ser por causa da pressão da oposição que deixará de cumprir o mandato até ao fim. “As pessoas caem quando estão dispostas a cair e eu não estou. Eu não vou cair. Venha tentar, que eu não vou, eu não vou”, repetiu, numa entrevista exclusiva ao jornal Folha de São Paulo.

A Presidente que em Junho viu a sua popularidade cair para o mínimo histórico de 9%, disse que as críticas e os ataques da oposição, com vista à sua saída do poder, são naturais e próprias da luta política – ainda que, na sua opinião, algumas manobras de bastidores recentes sejam “um tanto golpistas”. Desafiadora, Dilma garantiu que “se tem uma coisa de que não tenho medo” é de ser forçada a demitir-se: “Não tem base para eu cair, e venha tentar”, acrescentou, insistindo que ninguém poderá provar as suspeitas de corrupção lançadas contra si.

“Não conte que eu vou ficar nervosa. Não me atemorizam”, insistiu. “Se tivesse culpa no cartório, me sentiria muito mal. Mas não tenho nenhuma, nem do ponto de vista moral nem do ponto de vista político”, prosseguiu, considerando que a oposição confunde os seus desejos com a realidade quando fala na sua resignação ou na impugnação da eleição de 2014. “Para tirar um Presidente da República tem de explicar porquê. Tem uma base real?”, perguntou. “Não acredito que tenha”, respondeu. “Não é necessário apenas querer, é necessário provar”, insistiu.

Acossada pelas crises da política e da economia do Brasil, Dilma tentou projectar uma imagem de calma e tranquilidade perante a agressiva ofensiva dos seus adversários, e ao mesmo tempo de firmeza na condução do Governo. “Estou lutando incansavelmente para superar um momento bastante difícil na vida do país”, declarou, desmentindo que a pressão em que vive a tenha levado a pensar em suicídio. “Foi cem mil vezes pior ser presa e torturada. Agora vivemos numa democracia. Isto não é tortura, é moleza. É uma luta para construir um país. Eu não me quis suicidar quando estavam tentando me matar, a troco de quê quereria me suicidar agora?”, comparou.

Apesar de ter desvalorizado as iniciativas da oposição à Folha de São Paulo, no mesmo dia em que falou com os jornalistas a Presidente reuniu de emergência o s seus ministros e os partidos da base aliada, para desenhar uma estratégia de resposta à pressão sobre o Governo. Segundo a imprensa brasileira, no encontro terá ficado decidido um reforço de poder e protagonismo ao vice-presidente, Michel Temer, de forma a aplacar a base rebelde do aliado PMDB, encabeçada pelo presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, que tem vindo a ser “namorado” pela oposição social-democrata. “Quem me quer tirar do cargo não é o PMDB, de jeito nenhum. E eu acho que o PMDB é óptimo”, assegurou Dilma durante a entrevista.

Já sobre a deterioração da situação económica brasileira – e o inevitável descontentamento popular com as medidas de “ajuste fiscal” que implicam cortes na despesa pública – a Presidente prometeu “fazer o diabo” para que a população não sinta os efeitos da recessão prevista para este ano (as previsões apontam para uma quebra de 1% do Produto Interno Bruto brasileiro), e também apresentar em breve novas medidas para compensar as alterações introduzidas pelo Congresso ao pacote económico do Governo para equilibrar as contas públicas e contornar a crise.

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