Bancos gregos podem recorrer a depósitos para assegurar liquidez

Notícia do Financial Times indica que bancos gregos podem ir buscar dinheiro aos depósitos em caso de insolvência. Governo e responsáveis da banca grega negam.

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Vítor Constâncio indicou que a decisão do referendo de domingo pode ser decisiva para a linha de financiamento aos bancos gregos Louisa Gouliamaki / AFP

A possibilidade de a Grécia ir buscar dinheiro aos depósitos bancários como medida de último recurso para salvar o sector depende do Banco Central Europeu (BCE) e da rapidez com que o país entrar num novo programa de assistência. Esta é a mensagem a reter de uma reportagem publicada pelo Financial Times na edição deste sábado e prontamente negada pelo Governo e responsáveis gregos do sector financeiro.

De acordo com o jornal britânico, que cita fontes não identificadas da banca e do sector empresarial grego, se o BCE não mantiver os empréstimos de emergência – algo que será debatido novamente na segunda-feira – e os bancos gregos entrarem em colapso, então o país avançará com taxas para os depósitos acima dos 100 mil euros, que garantirão assim a liquidez no sistema bancário. Há pelo menos um banco que estará a considerar uma taxa de 30% sobre os depósitos com mais de oito mil euros.

“Aconteceria no contexto de uma reestruturação geral do sector bancário quando a Grécia estiver novamente num programa de assistência”, disse uma das fontes ao Financial Times. “Não é algo que acontecerá imediatamente.”

“Um rumor malicioso”, nas palavras de Yanis Varoufakis, o ministro das Finanças da Grécia. A notícia do diário financeiro foi também desmentida por Louka Katseli, presidente do Banco da Grécia e da Associação de Bancos Gregos. “Não há quaisquer cenários dessa natureza para qualquer banco grego, nem apenas como um exercício no papel”, disse ao canal grego Skai TV.

Louka Katseli adiantou na sexta-feira que o sector bancário grego tem uma almofada de liquidez de 1000 milhões de euros. Mas admitiu também que, a partir de segunda-feira, toda a liquidez será assegurada pelo BCE, que se reúne nesse dia para decidir novamente sobre a linha de empréstimos de emergência à Grécia.

Na última segunda-feira, a instituição financeira máxima do euro decidiu não aumentar, mas manter o nível de financiamento de emergência nos 89 mil milhões de euros, o que obrigou os bancos gregos a imporem controlos de capital. Uma decisão que se manteve após a reunião do banco central na quarta-feira.

Neste momento, os gregos não podem levantar mais de 60 euros por dia, para controlar a fuga de depósitos. Os bancos estiveram fechados a semana inteira, embora Varoufakis tenha prometido já que reabririam na terça-feira. A pressão está no referendo de domingo. O vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio, deu indicações que o voto “sim” pode permitir mais financiamento de emergência na segunda-feira.

As fontes consultadas pelo Financial Times não disputam a mensagem de Louka Katseli e dizem até que há dinheiro para alimentar os levantamentos até ao meio da próxima semana. “A solvência dos bancos gregos não é um problema neste momento, mas é óbvio que os bancos serão afectados pelo tempo que demorar para o país entrar num novo programa”, disse um banqueiro não identificado ao jornal britânico.

Um haircut nos depósitos foi uma das condições do resgate financeiro a Chipre, em 2013. O Eurogrupo decidiu então que essa seria uma das fontes de liquidez para os dois maiores bancos do país, o Laiki e o Banco de Chipre. No caso do primeiro banco, mais tarde desmantelado, todas as contas perderam o que tinham acima dos 100 mil euros protegidos pelas normas europeias. No caso do Banco do Chipre, que sobreviveu à crise com os activos não-tóxicos do Laiki, os depósitos acima dos 100 mil euros sofreram um corte de 37,5%. O plano inicial do Eurogrupo era o de taxar todas as contas bancárias com um imposto extraordinário.

Um modelo que Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças, disse então que deveria passar a ser o modelo para o futuro, uma vez que o resgate incluía accionistas, detentores de obrigações e depositantes. “Deve ser a norma quando uma instituição financeira cai numa situação difícil”, afirmou em Abril de 2013. 

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