Portugal é o país da UE com mais trabalhadores por conta própria na agricultura

A taxa de auto-emprego no sector ultrapassa os 74%, contra 52,4% na média europeia. Em termos globais, foi em Portugal que esta taxa mais desceu entre 2007 e 2013.

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Na agricultura a taxa de trabalho independente é globalmente elevada José Sarmento Matos

Portugal é o país da União Europeia com maior percentagem de pessoas a trabalhar por conta própria no sector da agricultura. De acordo com o estudo flexibility@work2015, elaborado por David Blanchflower, da Faculdade de Dartmouth, a pedido da Randstad (empresa de recrutamento), a taxa de auto-emprego atingiu os 74,8% no terceiro trimestre de 2014, mas já chegou aos 82% durante os primeiros três meses de 2008.

Este é o valor mais elevado entre os 28 Estados-membros e só a Irlanda atinge valores semelhantes, com 72,7%. Ainda assim, na agricultura a taxa é globalmente elevada, ultrapassando os 50%. A média europeia é de 52,4%.

A análise de David Blanchflower centra-se nos anos da crise e conclui que, entre 2008 e 2014, pouco mudou na proporção de trabalhadores por conta própria neste sector. “Naturalmente os países com maior proporção de trabalhadores na agricultura tendem a apresentar taxas de auto-emprego mais elevada. Por exemplo, na Grécia, 13,7% da população activa trabalha na agricultura, enquanto em Portugal a percentagem é de 10,2%, comparando com 3% em França, 1,4% na Alemanha e 1% no Reino Unido”, escreve o autor.

Noutros sectores, como a construção, a taxa de auto-emprego é de 21,9%, não tão elevada como no Reino Unido ou Itália (acima dos 40%).

Em termos gerais, a taxa em Portugal é de 21,7%, valor de 2013 e que é o mais baixo desde 1990. Países como a Grécia (36,8%, o mais elevado da UE), Itália (25%) ou Polónia (22%) têm mais pessoas nesta situação. Na maioria das economias da OCDE, este indicador caiu nos anos de crise, mas Portugal e a Coreia são os países que protagonizaram as maiores quedas, de 2,55 pontos percentuais (-29%) e 4,4 pontos percentuais, respectivamente. No lado oposto, Reino Unido, França e Holanda registaram aumentos.

Em Portugal, o número de pessoas a trabalhar por conta própria caiu mais do que o número de empregados (-5%) e o seu peso sobre o total do emprego é de 16% (18% em 2007). Questionados sobre as vantagens de exercer uma profissão sem depender de terceiros, 57% dos portugueses indicam a maior “independência” e 23% a “liberdade”. Apenas 15% justificam a opção com o rendimento auferido.

Regra geral, estes trabalhadores recebem menos face ao salário médio dos países. O estudo dá o exemplo do Reino Unido, onde 65% das pessoas nestas condições recebem menos de dez mil libras por ano (14.073 euros). “A grande depressão atingiu fortemente os rendimentos dos trabalhadores por conta própria”, escreve o autor.

As conclusões globais do estudo indicam ainda que as mulheres são menos propensas a trabalhar por conta própria e esta é uma opção comum entre os mais velhos, acima dos 65 anos, como complemento à reforma. É mais provável que os trabalhadores menos qualificados se dediquem ao trabalho independente em países como Portugal, Irlanda, Grécia ou Espanha. Contudo, na Áustria, Bélgica, França ou Alemanha o cenário é oposto: quanto maior é a qualificação, maior é a taxa de auto-emprego.

Esta realidade também é mais frequente entre a população imigrante e nas minorias étnicas.

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