Santander e Cerberus fora da corrida ao Novo Banco

Chineses da Fosun (Fidelidade) e Anbang dados como favoritos no mercado, mas Apollo tem do seu lado a parceria com a seguradora Tranquilidade e a dispersão de capital em bolsa.

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Terminou hoje o prazo para apresentação das propostas finais de compra do banco que resultou da cisão do BES Rita França

Duas desistências: o Santander e o fundo norte-americano Cerberus. Mas continuam na corrida três candidatos. Os dois chineses da Fosun e Anbang Insurance Group e o fundo norte-americano Apollo Global Management confirmaram na tarde desta terça-feira a intenção de comprar o Novo Banco, entregando ao Fundo de Resolução (FR), que gere o terceiro maior banco português, ofertas de valor vinculativo.

Depois de há cerca de seis meses ter arrancado com o processo de venda do Novo Banco, o Banco de Portugal (BdP) emitiu esta terça-feira um comunicado a informar que estão na fase final da alienação três grupos, todos estrangeiros. Ainda que o supervisor, que gere o FR, não tenha adiantado os nomes, a Fosun (dona da Fidelidade e da ES Saúde), o Anbang (sem actividade em Portugal) e a Apollo (que tem a Tranquilidade) entregaram ofertas vinculativas. Já o Santander, o único banco que estava a candidatar-se à compra do Novo Banco, saiu de cena, no que foi acompanhado pelo fundo norte-americano Cerberus. 

O BdP admite anunciar antes do final do mês de Julho o nome do próximo dono do Novo Banco que sairá desta shortlist. Antes, porém, terá de completar um capítulo crítico da operação com a análise das três propostas, um processo que pode ter conclusão rápida se uma das ofertas se distanciar das outras duas em termos de valor e de projecto. Ou pode arrastar-se se os três “envelopes” se equivalerem entre si, o que obrigará a negociações complexas. Para fazer face a uma situação menos clarificadora, o caderno de encargos prevê mesmo o recurso a um leilão final para maximizar o preço e diferenciar ofertas semelhantes.

O “segredo” da vitória está no valor que terá de garantir o mínimo de prejuízo (de preferência, com lucro ou sem perda) para o Fundo de Resolução, que paga juros ao Estado pelo empréstimo de 4900 milhões de euros. Verba que recebeu para impedir que o Banco Espírito Santo (BES) falisse e abrisse as portas a 4 de Agosto de 2014, com uma nova designação: Novo Banco.

Mas a natureza do projecto empresarial proposto pode ser um trunfo. O governador do BdP, Carlos Costa, já veio dizer que privilegiará a solução que preserve o banco como um todo. A grande dúvida está em saber se a venda vai acarretar, ou não, “prejuízo” para o sector Estado e, nesse caso, qual a sua dimensão. Se o montante for inferior aos 4900 milhões aplicados no Novo Banco, haverá perdas mas que até podem ser acomodáveis pelo sistema. Se, por hipótese, a factura negativa se aproximar dos 50% dos fundos injectados, o cenário muda: perde o Estado e a Caixa Geral de Depósitos.

A comunicação social fala em ofertas entre 2000 e os 5000 milhões de euros, mas desconhece-se a que dossiers correspondem. Isto, por não se saber se as avaliações dos candidatos às contas do Novo Banco detectaram novas insuficiências de capital. E uma coisa é o envelope financeiro, o dinheiro que oferecem pelas acções; outra, como cada grupo pretende recapitalizar a instituição para repor os rácios de capital - hoje nos 9,5% - dentro da média do sector (11%). 

No mercado há quem acredite que a vitória será de um dos dois conglomerados chineses, Fosun e Anbang, dispostos a despender mais de 4000 milhões de euros, pois o objectivo é ter um pé no sector europeu. Mas a Apollo mantém-se na corrida com um trunfo: a parceria com a Tranquilidade, que vende seguros aos balcões do Novo Banco, e a possibilidade de a prazo dispersar parte do capital em bolsa.

No Parlamento, o presidente do BPI, Fernando Ulrich, afirmou que a venda do Novo Banco por menos de 4900 milhões “representará perdas para o sistema” e “haverá risco sistémico”. À cautela, a Comissão Europeia, nas novas previsões da Primavera, já veio assumir que a alienação do Novo Banco pode implicar um prejuízo, o que se repercutirá no défice público.

Com o que hoje se sabe, podia-se ter evitado o colapso do BES e do GES? O processo de resolução trouxe perdas para os contribuintes? As respostas a estas perguntas ditarão o juízo final do cidadão. Mas só com o fecho do dossier haverá condições para fazer um balanço definitivo do regates ao BES.

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