Lula acha que será o próximo alvo da operação Lava Jato

Detenção de empresários da construção deixou cúpula do PT em “estado de alerta” porque corria a informação de que se Marcelo Odebrecht fosse preso, como aconteceu, não cairia sozinho.

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Proximidade de Marcelo Odebrecht com Lula é realçada pela imprensa brasileira Miguel Rojo/AFP- Arquivo

O ex-Presidente do Brasil Lula da Silva está convencido de que será o próximo alvo da operação Lava Jato, uma investigação à rede de corrupção em torno da Petrobras, a petrolífera nacional. A notícia é do diário Folha de S. Paulo, segundo o qual o antigo líder disse a aliados que a detenção, na sexta-feira, dos presidentes das duas maiores empresas de construção brasileiras, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, é um sinal de que está na mira dos investigadores.

Lula estará preocupado por não ter “foro privilegiado” – protecção que permite a titulares de cargos públicos de topo em funções serem julgados apenas pelo Supremo Tribunal Federal – o que leva a que possa ser chamado a depor a qualquer momento. Mas, segundo o Estadão, o ex-Presidente não está a ser investigado na Lava Jato.

A detenção de Marcelo Odebrecht, de Otávio Azevedo e de executivos das suas empresas pela Polícia Federal deixou, em todo o caso, a cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT) – de Lula e da actual Presidente, Dilma Rousseff – em “estado de alerta”: desde o final de 2014 circulava a informação de que, caso fosse para a prisão, Odebrecht não “cairia sozinho”.

A revista Época pôs na capa Marcelo Odebrecht e escreveu em título: “Ele ameaça derrubar a República.” No texto é dito que Emilio Odebrecht, pai de Marcelo e criador daquela que é maior construtora da América Latina, acredita que o Governo do PT está por trás das investigações. O patriarca é citado como tendo repetido em várias ocasiões que se o filho fosse para a cadeia seriam precisas outras três celas: “Uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para a Dilma”, terá dito.

A imprensa brasileira realça a proximidade entre Lula e os Odebrecht, cujo grupo patrocinou viagens do ex-Presidente, para tentar abrir mercados em África e na América Latina. Quando, por exemplo, em 2011, Lula foi à Guiné Equatorial como representante do Governo, a delegação oficial integrava – sem que o Ministério dos Negócios Estrangeiro inicialmente soubesse, o que o levou a pedir explicações – Alexandre Alencar, um dos executivos da Odebrecht agora detidos.

Depois da visita à Guiné Equatorial, a Odebrecht – também presente na construção em Portugal; tal como a Andrade Gutierrez, igualmente accionista da Oi, que vendeu a empresa PT Portugal à francesa Altice – entrou no país africano. O ex-Presidente também foi a Angola, numa acção patrocinada pela Odebrecht, lembra a Folha.

Quando as suspeitas sobre si se tornaram públicas, Lula negou qualquer actuação ilícita.

Mesmo dizendo que não está a ser investigado na Lava Jato, o Estadão destaca a proximidade entre o ex-Presidente e os meios empresariais e revela mensagens entre o antigo líder da construtora OAS, Léo Pinheiro, também arguido, e executivos do seu grupo, nas quais Lula seria tratado pela alcunha de Brahma.

Lula – que segundo o mesmo jornal aparece numa folha de pagamentos da construtora Camargo Corrêa – é apresentado como interlocutor preferido em vez de Dilma: “A senhora não leva jeito, discurso fraco, confuso e desarticulado. Falta carisma”, é dito numa das mensagens,

A Folha de S. Paulo escreve que Lula se queixou de inércia de Dilma Rousseff face à investigação, dizendo que foi o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, quem convenceu a chefe de Estado a minimizar o impacto político da operação.

Os assessores presidenciais preocupam-se em manter Dilma à margem mas a proximidade da Presidente com Lula não deixará de a afectar negativamente.

Um ministro citado pela Folha afirmou que não será só o PT penalizado. O partido da Presidente fez saber que a investigação atingirá também outras forças políticas, incluindo o PSDB, da oposição, com o qual os detidos também mantinham boas relações. O PT recorda que os empresários agora detidos apoiaram nas presidenciais de 2014 candidatos de outras áreas: Obebrecht teria estado ao lado de Aécio Neves, Otávio Azevedo com Marina Silva.

Nesta fase da Lava Jato, uma operação iniciada há mais de um ano, e que já teve mais de uma dúzia de etapas, está a ser investigado um escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras, funcionários da empresa, executivos de empresas de construção, políticos e partidos. As suspeitas são de existência de um esquema de pagamento de "luvas" a troco de contratos com as empresas que lesaram a petrolífera.

Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo são acusados não só de saberem do esquema de corrupção como de participação directa. Uma parte das “luvas” terão sido usadas para pagar a políticos, na sua maioria deputados ou senadores.

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