Ex-assessor foi alvo de buscas mas nega ter feito negócios a favor de Sócrates

O economista Vítor Escária diz que "temática não é agradável" e sublinha que deu o seu "melhor durante seis anos" nos mandatos do ex-governante.

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Da parte de José Sócrates, não há memória de uma discussão brutal

Vítor Escária, ex-assessor económico de José Sócrates, foi alvo de buscas em Março no âmbito do processo em que o ex-primeiro-ministro está em prisão preventiva por fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais, confirmou o PÚBLICO.

O economista salientou ao PÚBLICO que não foi constituído arguido e nega que alguma vez tenha feito “negócios particulares” a favor de Sócrates em deslocações oficiais à Venezuela. Os investigadores suspeitam que o Vítor Escária tenha sido angariador de negócios para o ex-governante nos seus dois mandatos, fazendo a ligação entre o ex-chefe de governo e o mundo empresarial, noticiou o jornal Sol.

O ex-assessor de Sócrates esteve nos encontros que culminaram com a construção de habitações na Venezuela pelo Grupo Lena, o mesmo grupo em favor do qual o antigo chefe de Governo admitiu, numa entrevista à SIC, em Fevereiro, ter intercedido junto do vice-presidente de Angola, Manuel Domingos Vicente. Porém, Sócrates disse que o fez com “gosto” e por “mera simpatia” e sem “nenhum interesse que não fosse ajudar uma empresa portuguesa”, classificando essa actuação como “diplomacia económica”. Também Vítor Escária sublinha que a sua missão era então fazer “diplomacia económica”.

“Não confirmo nem desminto as buscas. Não me cabe a mim confirmar o que os serviços da Justiça podem dizer. Mas esta temática não me é agradável. Toca-me profundamente este assunto porque dei o meu melhor durante seis anos”, disse Vítor Escária, actualmente professor de Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão, remetendo para o tempo em que esteve com Sócrates como assessor para a área económica.  

Certo é que as ligações entre o ex-primeiro-ministro e o grupo empresarial constituem um dos alvos da equipa de investigadores liderada pelo procurador Rosário Teixeira. Aliás, o administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca Rodrigues é arguido neste processo, suspeito de ser o principal corruptor de Sócrates, estando em prisão preventiva.

O contrato milionário que o Grupo Lena celebrou com o Governo da Venezuela - depois de Sócrates o ter desbloqueado junto de Hugo Chávez em 2010 - foi responsável, no ano passado, por 29% dos 410 milhões de euros da sua facturação. Em 2008 o grupo de Leiria já se encontrava em grandes dificuldades e em 2009 tinha registado uma quebra de 68% nos seus lucros.

Em Outubro de 2010, Sócrates deslocou-se a Caracas em visita oficial, acompanhado de numerosos empresários e jornalistas. O PÚBLICO noticiou então que os principais resultados da visita se traduziram no "desbloquemento" de dois negócios que se encontravam num impasse. Um era o fornecimento de 520 mil computadores Magalhães à Venezuela. O outro era um acordo de princípio celebrado há dois anos entre o Governo de Hugo Chávez e o Grupo Lena, que não tinha tido concretização.

Neste caso, a viagem do ex-primeiro ministro permitiu que o contrato fosse finalmente assinado, entregando ao grupo a construção de 12.512 casas e duas fábricas de lajes de betão. O contrato, que ascende a 988 milhões de euros e deveria terminar em 2014, teve um arranque difícil, mas, no relatório e contas de 2011, o grupo empresarial já o considera o seu “maior desafio de sempre”.

Sócrates é actualmente o único arguido que continua na cadeia no âmbito deste processo. Está em prisão preventiva há mais de seis meses e voltou recentemente a ser interrogado pelo Ministério Público. O juiz Carlos Alexandre tem até dia 9 do próximo mês para decidir se Sócrates continua ou não na cadeia. 

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