Platini: "Pedi a demissão de Blatter"

UEFA diz que vai apoiar concorrente do actual presidente à liderança da FIFA no congresso de sexta-feira. Aumenta a pressão sobre Blatter, que nega responsabilidades.

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Michel Platini depois de reunir com Blatter Fabrice Coffrini / AFP

A pressão sobre o presidente da FIFA, Joseph Blatter, está a aparecer de vários lados, um dia depois da detenção de sete dirigentes do organismo que tutela o futebol mundial por suspeitas de corrupção. A UEFA vai apoiar o candidato que se opõe a Blatter, mas está longe de conseguir reunir todas as tropas.

O presidente da UEFA, Michel Platini, esteve presente no encontro de emergência em Zurique, segundo a BBC, e no qual Blatter confirmou que o congresso de sexta-feira irá mesmo avançar. A confederação europeia tem sido uma das mais críticas da forma de actuação da FIFA e anunciou que vai apoiar o candidato que vai defrontar Blatter no congresso de sexta-feira. O cenário de boicote ao congresso foi afastado após uma reunião entre as confederações europeias.

"Basta, já chega." Assim se dirigiu Platini aos jornalistas à saída de uma reunião entre as 54 federações europeias em que ficou decidido o apoio "de uma muito grande maioria" de associações europeias a Ali bin Al-Hussein, presidente da Federação de Futebol da Jordânia e que concorre contra o actual líder da FIFA.

"As pessoas não o querem [Blatter] e eu também não o quero. Sempre disse que eles queriam que a FIFA fosse forte e a FIFA já não é forte", afirmou o presidente da UEFA. O apoio europeu a Al-Hussein foi a forma encontrada pela UEFA de mostrar o repúdio pelo ambiente de suspeita que paira sobre a FIFA. Porém, não é certo que o consenso seja total entre as 54 federações europeias. "Estou ainda a tentar convencer algumas que não estão totalmente convencidas", admitiu Platini.

À partida haverá a oposição da Rússia e de Espanha, que devem votar em Blatter, diz o Guardian. Fontes da candidatura do jordano dizem, porém, que Al-Hussein julga ter confirmados cerca de 60 votos de federações fora da Europa, o que pode tornar aquela que seria uma eleição já decidida à partida numa difícil missão para Blatter.

Platini também confirmou que pediu directamente a demissão de Blatter durante a reunião desta manhã. "Eu disse-lhe 'Sepp, quero falar contigo de homem para homem, cara a cara'. Ele respondeu 'É demasiado tarde, não posso sair assim de repente quando o congresso começa esta noite'."

A hipótese a um possível boicote das selecções europeias ao próximo Mundial, caso Blatter se mantenha na FIFA, não foi afastada por Platini, que disse que a UEFA está "aberta a todas as opções".

Durante muito tempo o nome do antigo futebolista francês foi apontado como um dos potenciais candidatos à presidência da FIFA - especulações que o próprio alimentou, mas às quais colocou um ponto final no Verão do ano passado, preferindo continuar à frente da UEFA. "Não é fácil dizer a um amigo que ele deve sair, mas é assim que a história está a avançar. Digo isto com tristeza, com lágrimas nos olhos. Houve demasiados escândalos", acrescentou Platini.

No discurso de abertura do congresso em Zurique, Blatter não deixou de abordar o escândalo que envolve a FIFA, mas descartou qualquer responsabilidade pessoal, apresentando-o como obra de "uma minoria". "Sei que muitos me consideram responsável. Não posso vigiar toda a gente ao mesmo tempo; se as pessoas quiserem fazer mal, também irão tentar escondê-lo", afirmou.

O presidente da FIFA deixou ainda um apelo para que se "reconstrua a confiança" na organização, pedindo "solidariedade e união" ao mundo do futebol e deixou antever mais problemas. "Os próximos meses não serão fáceis. Estou certo que mais más notícias se seguirão."

Patrocinadores em alerta
As preocupações quanto à imagem da FIFA e dos Campeonatos do Mundo de 2018 e 2022 - cujos processos de escolha dos países organizadores são uma das pedras angulares de uma das investigações em curso - chegaram também aos principais patrocinadores.

A Visa mostrou-se "profundamente desapontada" com as acusações de envolvimento em esquemas de corrupção por parte de alguns dos mais altos responsáveis da FIFA. A empresa de cartões de crédito pede "medidas rápidas e eficazes", sob pena de vir a "reavaliar" o contrato de patrocínio.

A Coca Cola reagiu de forma semelhante, apesar de não ter acenado com a ameaça de abandonar o patrocínio à FIFA.

Sepp Blatter procura um quinto mandato à frente do futebol mundial, mas a pressão para que se demita ou, pelo menos, adie a votação é crescente. O suíço evitou aparecer esta sexta-feira ao público numa conferência médica em Zurique, tendo antes reunido de emergência.

O presidente da Federação Inglesa de Futebol pediu a saída de Joseph Blatter da presidência da FIFA, no seguimento do escândalo de corrupção envolvendo a organização internacional. "Sepp Blatter tem de deixar de ser presidente da FIFA", disse Greg Dyke à AFP.  "Não há forma de restabelecer confiança na FIFA se Blatter lá estiver. Ou ele se demite, ou perde a votação ou temos de encontrar uma terceira forma", defendeu. Dyke, que se encontra agora em Zurique, apelou à UEFA para "o tentar forçar a sair".

O apelo de Dyke foi apoiado pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius,veio pedir para adiar as eleições.

A investigação promovida pelo Departamento de Estado norte-americano não envolve, contudo, o nome do presidente da FIFA e a reacção imediata da organização, logo após serem conhecidas as detenções e as acusações, foi de recusar qualquer adiamento das eleições. Apesar da pressão crescente, Blatter e a sua gestão continuam a reunir alguns apoiantes.

Apoio russo a Blatter
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou nesta quinta-feira que os Estados Unidos querem impedir a reeleição de Blatter e pôr em causa a organização russa do Campeonato do Mundo de 2018. Tal "constitui uma grosseira violação das regras de funcionamento das organizações internacionais", reclama Vladimir Putin.

O Ministério Público da Suíça informou nesta quinta-feira que não está, neste momento, a planear ouvir o presidente da FIFA no âmbito de uma investigação que levou a detenção de dirigentes ou ex-dirigentes do organismo por corrupção. "Neste momento, não há nenhum plano para interrogar o presidente da FIFA", disse Andre Marty, porta-voz do Ministério Público suíço, à AFP.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou nove dirigentes ou ex-dirigentes e cinco parceiros da FIFA, acusando-os de conspiração e corrupção nos últimos 24 anos, num caso em que estarão em causa subornos no valor de 151 milhões de dólares (quase 140 milhões de euros).

Entre os acusados estão dois vice-presidentes da FIFA, o uruguaio Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb, das Ilhas Caimão e que é também presidente da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas), assim como o paraguaio Nicolás Leoz, ex-presidente da Confederação da América do Sul (Conmebol).

Dos restantes dirigentes indiciados fazem parte o brasileiro José María Marín, membro do comité da FIFA para os Jogos Olímpicos Rio2016, o costarriquenho Eduardo Li, Jack Warner, de Trinidad e Tobago, o nicaraguense Júlio Rocha, o venezuelano Rafael Esquivel e Costas Takkas, das Ilhas Caimão.

A FIFA suspendeu provisoriamente 11 pessoas de toda a actividade ligada ao futebol: os nove dirigentes ou ex-dirigentes indiciados e ainda Daryll Warner, filho de Jack Warner, e Chuck Blazer, antigo homem forte do futebol dos Estados Unidos, ex-membro do Comité Executivo da FIFA e alegado informador da procuradoria norte-americana, que já esteve suspenso por fraude.

A acusação surge depois de o Ministério da Justiça e a polícia da Suíça terem detido Webb, Li, Rocha, Takkas, Figueredo, Esquivel e Marin na quarta-feira, num hotel de Zurique, a dois dias das eleições para a presidência da FIFA, à qual concorrem o atual presidente, o suíço Joseph Blatter, e Ali bin Al-Hussein, da Jordânia.

Simultaneamente, as autoridades suíças abriram uma investigação à atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022 à Rússia e ao Qatar. com agências

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