Bancos têm imóveis para vender no valor de 8000 milhões de euros

Activos imobiliários na posse da banca cresceram dez vezes face a 2007.

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No final do ano passado, a banca portuguesa tinha em carteira, para alienação, activos imobiliários no valor de cerca de oito mil milhões de euros (bruto de imparidades), o que compara com aproximadamente 800 milhões de euros no final de 2007. Estes activos correspondiam a 1,9% do activo total no final de 2014 (0,2% em 2007).

Os dados constam do Relatório de Estabilidade Financeira divulgado nesta terça-feira pelo Banco de Portugal, que considera que a forte exposição das instituições financeiras ao negócio imobiliário é um dos factores actuais de risco do sector. O regulador defende que deve haver um claro esforço das entidades bancárias com vista a reduzir o peso desta rubrica no seu balanço, aproveitando “a recuperação observada nas condições do mercado imobiliário”.

Este crescimento da carteira de casas detidas pelos bancos está associado à crise económica e financeira, que colocou muitas famílias sem meios para assegurar o pagamento das prestações mensais, apesar de os juros terem vindo a descer de uma forma sustentável com os cortes sucessivos de taxas a que o BCE procedeu para tentar reanimar a dinâmica de investimento na zona euro.

Apesar de considerar que 2014 foi um ano em que a banca viveu num ambiente de “recuperação económica” que permitiu a correcção de alguns desequilíbrios macro-económicos – nomeadamente a redução da dívida do sector privado não financeiro -, o Banco de Portugal entende que há obstáculos e desafios que o sector tem de enfrentar.

Um dos cenários que pode ter impactos negativos no desempenho bancário nacional, segundo o relatório, é a exposição a países emergentes produtores de petróleo, “cujo preço se reduziu significativamente em 2014”, e a exposição indirecta às empresas portuguesas “com relações comerciais ou de investimento directo nos referidos países”. O caso de Angola é citado no relatório da equipa de Carlos Costa, por se tratar de um país onde, nos últimos anos, “alguns grupos bancários portugueses asseguravam níveis de rendibilidade relevantes”.

O quadro de taxas de juro baixas “coloca igualmente riscos para a estabilidade financeira”, assinala o relatório, porque “pode ter um efeito dissuasor sobre a poupança dos agentes económicos e, consequentemente, repercutir-se na actividade dos intermediários financeiros”.

O supervisor lembra, também, que a banca mantém uma elevada exposição à dívida pública portuguesa, que era de 6,6% do total dos activos no final de 2014. Este valor é quase sete vezes superior ao que se registava em 2007, mas está em queda face ao pico de 7,3% atingido em Setembro de 2013. Estes valores, lembra o relatório, apesar de elevados, estão perto da média que se encontra na comparação com outros países europeus.

Com o rendimento dos particulares em queda, o supervisor assinala um recuo da dívida total que tinham junto da banca nacional, que caiu para um valor equivalente a 84% do produto interno bruto (PIB) no final de 2014 – era de 91% no final do ano anterior. Também a dívida das sociedades não financeira apresentou “um decréscimo assinalável”, ao passar para 115% do PIB, nove pontos percentuais abaixo do apurado no final de 2013.

Apesar de os depósitos captados pelo sector financeiro em Portugal terem aumentado quase 5000 milhões de euros no ano passado, o supervisor sustenta que o esforço de redução de custos deve manter-se, através do fecho de balcões e da redução de trabalhadores. O relatório lembra que uma boa parte do trabalho, a este nível, já foi feito. Entre o final de 2010 e o final de 2014, o número de agências caiu cerca de 15% e o número de colaboradores recuou cerca de 13%.

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