Diogo: “Somos mais capacitados porque somos mais especializados”

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Em criança, Diogo Brito queria ser médico. Depois vieram as conversas com colegas do ensino secundário e a área de gestão começou a surgir como uma possibilidade. À opinião dos amigos juntou-se a influência da família: os pais tinham uma empresa, o gosto por esta área é transversal à família e assim a gestão acabou por vencer.

Na altura do mestrado, Diogo não teve de o procurar. Licenciado pelo ISCTE - Instituto Superior de Lisboa em 2009, já estava a trabalhar quando lhe foi proposto um desconto na propina do mestrado, na mesma instituição. “Como me licenciei com uma nota superior a 15 valores, fui contactado sobre a possibilidade de integrar um mestrado por metade do preço da propina”, explica. Fez um mestrado executivo em Finanças Empresariais, que concluiu em 2011.

Hoje trabalha no escritório londrino da empresa de tecnologia Cognizant Technology Solutions como consultor financeiro. Nos motivos que o levaram a procurar mercados internacionais pesaram objectivos profissionais que não encontram espaço na “estrutura económica e precária de Portugal” e a ambição pelo desafio. Antes disso, trabalhou em Angola, no departamento financeiro da Detecon International GmbH e na empresa Deloitte.

À pergunta se pondera regressar a Portugal, Diogo, 27 anos, responde que só colocaria essa opção se fosse para avançar com um projecto próprio. “Agora que contactei com outras culturas de trabalho, sei que não me adaptaria a Portugal”, diz. Alguns defeitos que aponta defeitos à cultura de trabalho do mercado nacional: “Há uma hierarquia muito vincada, não há possibilidade dos que têm ideias novas as apresentarem e concretizarem. Em Portugal senti que não há espaço”.

E é essa falta de espaço que leva todos os dias os seus colegas portugueses a procurar alternativas. “África do Sul, Moçambique, Brasil e alguns países asiáticos são neste momento grandes pólos de atracção dos cérebros”, conta.
Especialização

Mas nem tudo é fácil. No Reino Unido “sabem que os portugueses vêm de uma situação económica fragilizada e há, por isso, um aproveitamento por parte das empresas. Estamos sujeitos a receber menos”, alerta. Uma situação que, garante, é ultrapassada ao fim de um tempo, com um reajustamento quer ao nível de cargo e funções, quer ao nível salarial. Este reajustamento e evolução profissional seriam mais difíceis em Portugal, uma vez que “a situação económica não permite pagar a pessoas altamente qualificadas”.

Diogo considera que a especialização é a via para se obter uma alta qualificação. O que torna os alunos portugueses mais qualificados que os alunos britânicos da mesma idade, refere. “Aqui a educação é diferente. As pessoas têm uma formação muito mais geral. Não se especializam desde cedo. Têm formações como literatura, música e dança. Só depois seguem especialização numa área onde queiram seguir carreira”, esclarece.

Talvez também por isso, Diogo afirma que a reforma de Bolonha foi positiva. “Antes havia muitas disciplinas que não serviam para nada em termos práticos e profissionais Obviamente que traziam conhecimento, mas em termos profissionais não têm aplicação prática”. 

O jovem consultor alerta para factores que devem pesar na decisão de prosseguir estudos: “Se se for fazer um mestrado só para conquistar o lugar de mestre e que acaba por ser uma repetição do curso, então isso não será diferenciador no mercado de trabalho actual, quer em Portugal, quer no estrangeiro”.

Não obstante, e apesar da importância que atribui ao investimento numa formação contínua e especializada, Diogo deixa uma mensagem: “Se formos bons, não é o mestrado que vai ser decisivo. Obviamente que nos pode dar um impulso, mas conheço imensos colegas só com licenciatura que singraram na mesma.” O importante, sublinha, é arriscar.

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