Governo mantém pressão sobre pilotos para acabarem com a greve

Secretário de Estado diz que primeiros três dias de greve custaram mais de dez milhões de euros à TAP e quota de mercado está no nível “mais baixo de sempre”.

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Efromovich entrega proposta final de compra da TAP amanhã Pedro Cunha

Os primeiros três dias de greve dos pilotos custaram à TAP dez milhões de euros e a quota de mercado da companhia aérea portuguesa “caiu para o nível mais baixo de sempre”. Estes foram os argumentos apresentados nesta segunda-feira pelo secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, para tentar convencer a direcção do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) a cancelar a greve de dez dias, que se iniciou a 1 de Maio.

Durante uma conferência de imprensa no Ministério da Economia, Sérgio Monteiro adiantou que o prejuízo inclui a redução das receitas de bilheteira, os custos com alojamento e refeições dos passageiros afectados pelo cancelamento dos voos e ainda a redução das despesas da companhia com o não pagamento dos salários aos pilotos que aderiram à greve. Mas se a paralisação se mantiver até 10 de Maio, alertou, o impacto chegará aos 30 milhões de euros.

Apesar do “esforço” dos trabalhadores da TAP que não adeririam à greve, notou, a confiança dos clientes na TAP “está-se a ressentir” e nas duas últimas semanas de Abril, quando a greve foi anunciada, a quota de mercado da TAP no aeroporto de Lisboa “caiu para o nível mais baixo de sempre”.

Instado a concretizar essa queda, Sérgio Monteiro apenas adiantou que “a greve é muito mais gravosa para a TAP do que o problema operacional verificado no Verão do ano passado”. Na altura, exemplificou, a quota de mercado reduziu-se 1,5 pontos percentuais e, agora, a perda chega aos dez pontos percentuais.

O governante apelou à direcção do sindicato para que evite estes prejuízos e desconvoque a greve. "Mais vale tarde do que nunca. Ainda estamos a tempo de evitar mais de 20 milhões de euros de prejuízos e o impacto indirecto na economia", disse. E insistiu: "Os pilotos, na sua maioria, já deram a resposta que o país esperava; falta que a direcção sindical desconvoque a greve com a brevidade possível."

O secretário de Estado escusou-se a colocar o cenário de uma reestruturação da empresa, mas não deixou de lembrar que “a TAP de dia 11 de Maio não será igual à TAP de 1 de Maio”. Também em relação ao processo de privatização da empresa, preferiu não adiantar cenários catastrofistas e garantiu que se mantém a data de 15 de Maio para a entrega das propostas. Só nessa altura será possível perceber o impacto da greve no interesse dos eventuais investidores, justificou.

Os apelos e os argumentos do Governo não tiveram o efeito desejado junto da direcção do SPAC. Aos números apresentados por Sérgio Monteiro, o sindicato contrapôs “os custos da brasileira VEM e o que eles representam para a TAP e para o país”.

“Por que razão não faz o Governo uma conferência de imprensa para os anunciar”, questionou, num comunicado divulgado ao início da noite.

“Depois de mais de 500 milhões de euros enterrados no Brasil, por que razão prefere o Governo ameaçar os trabalhadores portugueses da TAP? Esta greve é da inteira responsabilidade do Governo e a perda de quota de mercado anunciada é o corolário da gestão ruinosa da TAP ao longo dos últimos 15 anos. Esta greve é da inteira responsabilidade do Governo e a perda de quota de mercado anunciada é o corolário da gestão ruinosa da TAP ao longo dos últimos 15 anos”, nota o SPAC, acrescentando que o Governo “sabe exactamente o que é preciso” para parar a greve.

70% dos voos concretizaram-se
Do lado do sindicato não foram apresentados números sobre a adesão à greve. Do lado da empresa, Carina Correia, porta-voz da TAP, adiantou que até às 18h00 desta segunda-feira realizaram-se 70% dos voos previstos, um valor semelhante ao registado durante o fim-de-semana.

No último balanço efectuado pela companhia, efectuaram-se 182 voos e foram cancelados 77, dos quais 35 eram da responsabilidade da TAP e 42 da Portugália.

Os pilotos da TAP cumprem hoje o quarto de dez dias de greve, por considerarem que o Governo não está a cumprir dois acordos assinados em 1999 e em Dezembro de 2014.

O primeiro conferia aos pilotos uma participação de até 20% na TAP em caso de privatização, em troca de actualização dos salários, mas o Governo diz actualmente que a pretensão não tem qualquer validade, remetendo para um parecer do conselho consultivo da Procuradoria-Geral da República que dá aquela pretensão como prescrita.

O segundo acordo juntou nove sindicatos, em Dezembro passado, mas o SPAC diz que o Governo não pretende cumpri-lo, o que é manifesto pelo facto de não ter incluído sanções ao incumprimento no caderno de encargos da privatização. Neste ponto, o mais polémico é a reposição das diuturnidades (subsídio de senioridade), congeladas sucessivamente desde o Orçamento do Estado para 2011.

Durante a conferência de imprensa, Sérgio Monteiro escusou-se a comentar a revogação do contratado do piloto e consultor Paulo Rodrigues com o SPAC. De acordo com um comunicado enviado pelo sindicato aos seus associados, e a que a Lusa teve acesso,  o piloto da TAP "juntou-se a esta luta na qualidade de piloto, continuando a exercer graciosamente as funções que lhe têm sido até aqui cometidas, em benefício dos pilotos".

A contratação de Paulo Rodrigues como consultor do SPAC, em diversas ocasiões, tem sido um motivo de divisão entre os pilotos do grupo TAP (TAP e PGA). Numa peça transmitida a 1 de Maio, no programa Sexta às Nove, a RTP revelou que Paulo Rodrigues esteve por trás de todas as grandes negociações do SPAC, tendo cobrado mais de um milhão de euros pelos serviços ao sindicato, dos quais cerca de 170 mil associados à preparação da actual paralisação.

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