Jean-Marie Le Pen suspenso da Frente Nacional, o partido que fundou

O até agora presidente honorário da formação de extrema-direita diz-se “repudiado” e garante que continuará a falar.

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Jean-Marie Le Pen à saída da sede nacional da Frente Nacional Philippe Wojazer / Reuters

O fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, deixou de ser militante do partido que fundou em 1970, uma decisão tomada numa reunião do conselho executivo do partido convocada para discutir as sanções disciplinares que lhe seriam aplicadas. Jean-Marie Le Pen recusou comparecer.

O seu afastamento da presidência honorária do partido, votado pelo conselho executivo na sua sede nacional em Nanterre, nos arredores de Paris, só será confirmado quando for realizada uma assembleia-geral extraordinária, onde serão modificados os estatutos da Frente Nacional (FN). Fica assim consagrada a marginalização do fundador do partido de extrema-direita, anti-imigração e eurocéptico, pela nova liderança, que tem à frente a sua filha Marine Le Pen.

No domingo, Marine Le Pen já tinha deixado o caminho aberto a sanções duras contra o próprio pai. “Jean-Marie Le Pen não deve poder expressar-se mais em nome da Frente Nacional, as suas posições são contrárias à linha fixada”, disse a líder numa entrevista televisiva.

Em causa estão os comentários recentes de Jean-Marie, que reafirmou que as câmaras de gás do Holocausto são “um detalhe da História” — uma posição que já defendia enquanto líder da FN e que lhe valeu processos judiciais. Dias depois, numa entrevista à Rivarol, uma revista de extrema-direita, Le Pen dizia que o marechal Pétain — chefe de Estado colaboracionista durante a ocupação nazi — foi tratado de forma “muito severa” após a libertação.

Comentários como este têm sido comuns, mas foram sempre desvalorizados pela filha, que recusou entrar numa guerra aberta. No entanto, a tensão no interior do partido — que se encontra num processo de “limpeza” de imagem à medida que tenta aproximar-se do poder — levou Marine Le Pen a afastar o pai das listas do partido às regionais que se vão realizar em Dezembro. Entrou a neta, Marion Maréchal-Le Pen, de 25 anos, para o seu lugar na região da Provença-Alpes-Côte d’Azur, onde a FN espera obter bons resultados.

O peso do fundador no partido não é irrelevante, e ele não tem jogado pelo apaziguamento, antes pela provocação, como na segunda-feira, quando abandou a sede no momento em que começava o encontro que devia decidir o seu destino partidário. Jean-Marie Le Pen, que é também eurodeputado, preferiu não esperar pela deliberação do órgão executivo e abandonou a sede do partido ao final da manhã. “Recuso ir ao comité executivo”, disse o antigo líder aos jornalistas, já de saída. “Fui repudiado.”

O pai da líder do partido francês de extrema-direita garantiu que vai continuar a falar “livremente”, algo que, diz, “choca um certo número de pessoas”. “O presidente fundador da FN considera que é contrário à sua dignidade apresentar-se perante uma assembleia, como posso dizer, disciplinar, enquanto ele se considera perfeitamente inocente e ter agido no quadro do seu mandato parlamentar, porque um parlamentar é pago para falar”, acrescentou, referindo-se a si próprio na terceira pessoa.

Resta saber se esta afirmação de força de Marine e do actual núcleo de poder na FN conseguirá vingar e manter o partido unido, sem causar uma nova cisão, num momento em que a FN está ainda a ser investigada por financiamento ilegal.   

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