Só uma vitória do Benfica será decisiva

FC Porto procura manter-se na luta pelo único título que ainda pode conquistar esta temporada. Para os “encarnados”, só uma derrota por mais de um golo colocaria em causa o primeiro lugar.

O jogo entre Benfica e FC Porto pode ser decisivo para o desfecho do campeonato FRANCISCO LEONG/AFP

Dos três resultados possíveis para o clássico desta tarde, no Estádio da Luz, apenas um será decisivo para a atribuição do título de 2014-15. Um triunfo do Benfica abre as portas para os festejos “encarnados” do bicampeonato, mas um empate seria igualmente bem-vindo para os lisboetas, que manteriam uma vantagem de três pontos para as restantes quatro jornadas da prova. Um cenário que torna simples a equação do FC Porto, a única equipa a disputar, hoje, verdadeiramente, uma final, que terá obrigatoriamente de vencer para manter o suspense até à linha da meta.

A equipa de Jorge Jesus chega ao clássico parecendo ter tudo a seu favor. Joga perante o seu público, não está pressionada a ganhar e mesmo uma derrota, dependendo dos números, poderá não ser fatal, face à vantagem do triunfo alcançado no Estádio do Dragão (2-0) na primeira volta, já que os golos no confronto directo serão decisivos em caso de empate na classificação. Apresenta ainda números esmagadores nos jogos na Luz para o campeonato, onde não perde há mais de três anos, apesar do último desaire ter sido precisamente frente ao adversário desta tarde, a 2 de Março de 2012 (2-3).

Já o FC Porto aposta toda a temporada neste clássico, reforçado de dramatismo após a dolorosa eliminação da Liga dos Campeões a meio da semana. Em escassos dias, os “dragões” experimentaram uma montanha russa emocional na UEFA, com efeitos imprevisíveis para o clássico. Se a vitória frente ao “galáctico” Bayern Munique na Invicta (3-1) elevou os índices de confiança a patamares estratosféricos, a humilhante goleada na Alemanha (6-1) deixou o conjunto de Julen Lopetegui em terrenos depressivos.

E há ainda que ter em conta o desgaste físico resultante das duas partidas da Champions, que poderá ser outro aspecto a beneficiar os actuais campeões nacionais. Sem outros compromissos competitivos, os “encarnados” tiveram espaço para preparar o clássico com a tranquilidade que faltou aos “dragões”. Jorge Jesus, no entanto, desvaloriza os efeitos do factor Bayern Munique. “Uma derrota mexe sempre com os jogadores e com o treinador, mas só nos primeiros dias. No jogo não vamos sentir nenhuma fragilidade pelo FC Porto ter sido goleado em Munique. Podemos criar dificuldades se tivermos capacidade para isso e não pelo que aconteceu em Munique”, garantiu o técnico este sábado, na antevisão da partida da Luz.

Perto de completar a sexta temporada aos comandos do Benfica, Jesus vai tornar-se neste domingo no técnico com mais jogos no campeonato pelos “encarnados”, com 180 partidas no currículo, superando os 179 do brasileiro Otto Glória. E um triunfo sobre os “dragões”, tornam-no no primeiro treinador português a vencer por duas vezes os portistas para o campeonato na mesma temporada. Já Lopetegui persegue apenas o primeiro triunfo no clássico, mas se o conseguir por mais de um golo de diferença na casa do rival será o segundo técnico na história dos “dragões” a alcançar o feito, que só foi festejado em 1951 (0-2).

Contratado esta temporada, o antigo seleccionador espanhol de sub-21 tardou em estabilizar uma equipa que exigia renovação e, ao mesmo tempo, recuperar com urgência o lugar cimeiro no futebol português. “Quando recebi a oferta [dos “dragões”] percebi que queriam criar uma forma de perceber o jogo. Para isso contrataram 16 jogadores novos. É a equipa mais jovem da história do FC Porto, com uma idade média de 24 anos”, justificou em Fevereiro deste ano, em entrevista ao jornal espanhol El País.

As dificuldades inerentes à construção de uma equipa nova foram visíveis nos primeiros meses e resultaram em alguns acidentes de percurso. A rotatividade tornou-se imagem de marca no “onze” portista, enquanto Lopetegui explorava soluções num plantel recheado de qualidade. Três empates consecutivos entre a 4.ª e 6.ª jornadas (V. Guimarães, Boavista e Sporting) fizeram soar os alarmes entre os adeptos e as críticas avolumaram-se na sequência das derrotas caseiras com os “leões” (1-3), que valeu a eliminação da Taça de Portugal, e com o Benfica, à passagem da 13.ª ronda do campeonato.

As experiências de Lopetegui prolongaram-se, mas acabaram por dar frutos, com a equipa a estabilizar, com exibições convincentes que a recolocaram na luta pelo título e nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, após um percurso sem derrotas. O pináculo da temporada seria atingido com o Bayern, no Dragão, mas o capital de confiança seria desbaratado uma semana depois pelo mesmo adversário.

Menos tempo necessitou Jorge Jesus para encontrar o “onze”-tipo com que iria atacar o bicampeonato, que foge aos “encarnados” há 31 anos. Um objectivo que o técnico confirmou, desde a primeira hora, ser a grande prioridade do Benfica, desinvestindo na Liga dos Campeões, onde não foi além da fase de grupos, apesar da relativa acessibilidade dos adversários. Ainda antes do final de 2014, saiu também da Taça de Portugal, eliminado pelo Sp. Braga em pleno Estádio da Luz (2-1).

A concentração na Liga passou a ser total, mas não evitou alguns dissabores na prova, que impediram a equipa de alcançar uma vantagem na classificação suficientemente confortável para retirar qualquer carga dramática ao clássico desta tarde. Nos últimos dois meses, o conjunto de Jesus começou a oscilar entre exibições categóricas nos jogos em casa e alguma insegurança nas partidas fora da Luz, como ficou particularmente patente na derrota em Vila do Conde, frente ao Rio Ave (2-1), na 26.ª jornada.

Exorcizar fantasmas
Esta tarde, frente aos “dragões”, o Benfica procurará também exorcizar alguns fantasmas do passado, como aquele que assombra os “encarnados” desde há duas temporadas, quando perderam o campeonato na penúltima jornada, na visita à Invicta, onde também chegaram no comando da classificação, com dois pontos de vantagem sobre os portistas.

Em mais um clássico potencialmente decisivo, Jesus quer agora um final feliz para a sua equipa: “Estamos em primeiro lugar desde a quinta jornada. Vamos pensar jogo a jogo. Ao longo desta época tenho repetido que esta é mais uma etapa de um campeonato onde queremos chegar à meta em primeiro. Se vamos chegar ao sprint com o nosso adversário, não sabemos.”

Se Jesus joga uma cartada importante, mas não decisiva, Lopetegui não tem qualquer margem para falhar. Uma derrota significa uma temporada sem títulos para o FC Porto, algo inédito no século XXI e que só ocorreu por duas vezes na era Pinto da Costa, que se prolonga há 33 anos. Mesmo na desastrosa época passada, ainda sobrou uma Supertaça para a galeria de troféus do presidente dos “dragões”, que só ficou de mãos vazias em 1982-83 e em 1988-89.

“O clássico é importantíssimo”, admitiu este sábado o treinador espanhol, que tem a missão de transformar a frustração portista dos últimos dias num grito de revolta no Estádio da Luz.

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