Passos e Portas anunciam aliança para legislativas e presidenciais

PSD e CDS vão concorrer com listas conjuntas como uma alternativa prudente.

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Passos Coelho e Paulo Portas assinaram um pré-acordo de coligação Enric Vives-Rubio
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A decisão de anunciar um acordo pré-eleitoral no dia 25 de Abril foi tomada há pouco mais de uma semana e era um segredo muito bem guardado. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas vão propor ao PSD e ao CDS uma aliança para as legislativas, com listas conjuntas e o apoio conjunto a um candidato presidencial após as eleições.

Numa sala de um hotel, em Lisboa, os dois líderes estiveram sozinhos, sem outros dirigentes partidários na assistência, e assinaram uma declaração conjunta de compromisso que será validada pelos conselheiros nacionais dos dois partidos, já na próxima semana.

As listas eleitorais conjuntas para as eleições serão baseadas na representação que os dois partidos obtiveram nas últimas legislativas de 2011 e “terão espaço para os independentes e inovadores” que se queiram juntar ao projecto, segundo o compromisso assinado.

A aliança estende-se ao apoio ao candidato presidencial, mas deixou de fora as decisões dos partidos nas regiões autónomas. O compromisso PSD/CDS estabelece “o necessário diálogo para que, depois das eleições legislativas, apoiemos um candidato presidencial”. Na maioria existe a convicção de que os socialistas acabarão por ficar prejudicados pela exposição mediática de candidatos da sua área política como é o caso de Sampaio da Nóvoa. Por isso, PSD e CDS adiam a decisão sobre presidenciais para depois das legislativas.

No dia das comemorações da Revolução de Abril, Passos Coelho levava cravo vermelho ao peito, Paulo Portas dispensou-o. As diferenças não se ficam por essa opção pessoal. “Apesar das diferenças significativas entre os dois partidos, eles souberam fazer um compromisso suficientemente forte para que os portugueses estivessem sempre primeiro. Esta coligação não representa o poder pelo poder”, afirmou Passos Coelho. O primeiro-ministro sugeriu a inevitabilidade da renovação da aliança: “Seria uma contradição se a coligação não estivesse disponível para se renovar”.

O líder social-democrata sustentou que a “aliança é forte pelo trabalho feito”, leia-se a “melhoria da economia”, embora reconheça que há “feridas a sarar”, no campo social.

Apesar de os dois discursos estarem em sintonia, as diferenças mantiveram-se visíveis. Passos Coelho defendeu a “linha de rigor” não apenas por “coerência”, mas também porque decorre da “exigência da situação do país”. “Estamos a caminhar bem. Ser cauteloso nunca fez mal em tempos ainda de dificuldades”, afirmou o líder do PSD.

Em harmonia com a declaração do seu parceiro, Portas também falou em cautela. “O plano do PSD e CDS é viável porque o défice fica em 2015 abaixo dos 3%. Sugiro prudência e caldos de galinha com os que aumentam a despesa baixam as receita”, disse o vice-primeiro-ministro, num recado directo ao PS e lembrando que as contas “são verificadas em Bruxelas”.

Numa outra mensagem dirigida aos socialistas, Portas criticou a descida da TSU para os trabalhadores, considerando que a maioria não fará essa opção. “O que não faremos é provocar um colapso nos trabalhadores porque isso paga as pensões dos actuais reformados”, apontou.

Definindo a aliança como um “projecto credível”, o vice-primeiro-ministro referiu a abertura para integrar “independentes” para “formar uma maioria que dê a Portugal um Governo estável”. Mais uma vez trouxe a lume a ideia das diferenças entre os partidos, mas sublinhou a “capacidade de compromisso.” E as distinções notaram-se nos discursos. Portas não esqueceu o compromisso – estabelecido no Programa de Estabilidade do Governo – da “recuperação do poder de compra”, referindo-se directamente à devolução da sobretaxa do IRS e dos cortes dos salários da Função Pública. A recuperação de rendimentos das famílias esteve ausente da intervenção de Passos Coelho.

Tal como fez Passos Coelho, Paulo Portas frisou o contraste entre a prudência da maioria e o que considerou o desleixo dos socialistas com os gastos públicos. “Agora vivemos num tempo de mais esperança, mais emprego. Quando o mais difícil já passou, é mais seguro entregar o poder a partidos que por natureza estão mais perto da economia real do que a quem chamou a troika e sujeitou os portugueses às condições dos credores”, afirmou. Apesar de não faltarem críticas ao PS nas declarações dos dois líderes partidários, o compromisso conjunto promete fazer uma “campanha pela positiva” e “sóbria”. No projecto a que se propõem apresentar aos eleitores, os dois partidos querem “eliminar, gradual mas firmemente, as medidas restritivas” e sustentam que o seu modelo económico, “se for bem gerido, faz avançar a economia, dá margem para o desagravamento fiscal e permite melhorar a qualidade do serviço e do apoio nas políticas sociais”.

Depois de meses a conversar, os dois líderes já acertaram as propostas políticas conjuntas (que estão no Programa de Estabilidade) mas ainda não fecharam listas eleitorais. A revelação das listas conjuntas só deverá acontecer no Verão, mas já se sabe que a representação dos partidos se baseia nos resultados de 2011, em que o PSD obteve 38,66% dos votos e o CDS conseguiu 11,71%, tornando-se a terceira força mais votada.

Para já, Passos Coelho e Paulo Portas quiseram “matar” a especulação em torno do desfecho das negociações ao mesmo tempo que evitam deixar o PS sozinho como uma alternativa única ao eleitorado.

Depois de intervenções curtas, de rubricar o acordo e de um aperto de mão, cada dirigente saiu separadamente para seu lado. Mas apercebendo-se disso, Passos Coelho esperou pelo líder do CDS ao fundo da sala e deram mais um aperto de mão, de despedida. O primeiro-ministro saiu do hotel, o vice-primeiro-ministro ficou mais uns instantes para um café.

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