As asas do Benfica contra o coração do FC Porto

Há diferenças vincadas entre os dois candidatos ao título, que no domingo medem forças. Os “encarnados” usam mais os flancos e são mais fortes no jogo aéreo. Os “dragões” fazem muitas vezes a diferença através do seu jogo interior.

O Benfica é mais forte pelos flancos, o FC Porto pelo meio Francisco Leong/AFP

Mais do que dois rivais históricos e do que os dois candidatos ao título nacional 2014-15, domingo, no Estádio da Luz, num jogo determinante para se apurar o campeão nacional, vão estar em campo duas identidades, dois modelos e dois sistemas de jogo distintos. E se o resultado prático dessas abordagens (leia-se, os pontos, os golos marcados e sofridos) não difere muito, o caminho para lá chegar é feito de diferenças evidentes. O Benfica desequilibra essencialmente pelas alas, o FC Porto pelo miolo do terreno.

Os números ajudam a ilustrar a situação. A capacidade finalizadora de Jackson Martínez e de Jonas depende em larga medida da forma como as equipas abordam o processo ofensivo. Os “encarnados”, normalmente dispostos em 4-4-2, têm nas faixas as habituais referências para chegar à área adversária, uma arma que se torna mais poderosa graças ao talento individual de Nico Gaitán e Salvio. Do lado dos “dragões”, normalmente organizados em 4-3-3, são a mobilidade e qualidade dos médios interiores que fazem muitas vezes a diferença, embora nas alas Brahimi e Quaresma (ou Tello) também desequilibrem.

Não é, por isso, de estranhar que Hector Herrera e Óliver Torres figurem no topo da lista dos jogadores com mais assistências na equipa, ao lado de Cristian Tello (todos com cinco). O espanhol cedido pelo Atlético de Madrid é dos elementos mais versáteis no plantel do FC Porto e é capaz de alternar muitas vezes passes curtos com lançamentos em profundidade. Já o mexicano ganhou, com Julen Lopetegui, estatuto de indiscutível e chega nesta época com muito mais assiduidade a zonas de finalização.

Neste aspecto, os “dragões” diversificam mais as vias que usam para chegar ao último terço do terreno, já que as arrancadas de Brahimi (três assistências e seis golos), de um lado, e de Quaresma (4/6), do outro, também têm feito mossa nos adversários ao longo do campeonato.

No Benfica, o cenário é outro. A preponderância de Nico Gaitán na produção atacante da equipa é inegável e o argentino destaca-se largamente da concorrência no número de passes decisivos com que serve os colegas. Nesta Liga, leva já 12 assistências (em 23 jogos) – é de longe o jogador mais produtivo da prova, segundo dados da Opta –, normalmente produzidas pelo lado esquerdo do ataque, embora as combinações com Lima ou Jonas pela zona central também sejam frequentes. Do lado oposto, Salvio é o segundo elemento mais fértil em assistências (soma oito), na maior parte das vezes na sequência de dribles individuais e de cruzamentos junto à linha final.

Os corredores laterais, de resto, também são muitas vezes explorados pelos defesas do Benfica de forma muito eficaz. André Almeida (jogador pouco utilizado nesta época) e Maxi Pereira levam quatro assistências cada e muitas vezes exploram o jogo aéreo de Lima e, especialmente, de Jonas. Neste capítulo, o líder da Liga é bem mais perigoso que o FC Porto: já marcou 16 golos de cabeça nesta época, contra cinco do rival.

Casemiro, Maxi e o boom de Jardel
Nas zonas mais recuadas do terreno, Maxi Pereira e Casemiro vestem a pele de jogadores de combate por excelência. Peças nucleares na manobra de Benfica e FC Porto, respectivamente, o lateral e o médio defensivo são fundamentais na forma como impedem, muitas vezes, as transições rápidas dos adversários e são dos elementos mais faltosos dos plantéis.

Segundo dados da Opta, o uruguaio é o segundo jogador das “águias”, depois de Salvio, com mais duelos com os rivais (294), sendo que o brasileiro emprestado pelo Real Madrid lidera destacado este ranking nos “dragões”: 421 duelos (o segundo da lista, Jackson, tem 349). No que respeita aos tackles, ambos se destacam nas suas equipas, mas Casemiro leva grande vantagem sobre Maxi: 114 contra 79 (nos cartões amarelos, o primeiro colecciona 10 e o segundo nove).

Do ponto de vista estritamente defensivo, porém, há um elemento que se sobrepõe a Maxi Pereira no Benfica: o improvável Jardel. Remetido a segunda (ou terceira) escolha desde que chegou à Luz, o brasileiro tem aproveitado o vazio deixado pela saída de Ezequiel Garay para se impor finalmente na equipa.

Neste campeonato, o central resgatado ao Olhanense no início de 2011 (e que chegou a competir várias vezes pela equipa B) é o terceiro jogador das “águias” com mais minutos jogados (2340), depois de Maxi e Lima. Mais do que isso, é o elemento do plantel com mais passes na Liga (1339, a maioria feita ainda no meio-campo defensivo), com mais desarmes (121), com mais intercepções (80) e remates bloqueados (oito). Comparativamente, no FC Porto os recordes nestes parâmetros são divididos entre Herrera (1490 passes), Maicon (75 desarmes e 14 remates desviados) e Alex Sandro (104 intercepções).


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