Campo minado trava ofensiva sobre o último bastião do Boko Haram

A coligação de países africanos está a preparar uma ofensiva conjunta sobre a floresta de Sambisa. Boko Haram tem perdido terreno e está enfraquecido.

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As forças pró-governamentais retiraram-se para Bama, mas devem voltar ao ataque daqui a uma semana, com o apoio da coligação AFP

Durou um dia a ofensiva do exército e das forças pró-governamentais da Nigéria contra o último bastião do Boko Haram. Os extremistas já não controlam nenhum centro urbano e estão refugiados na floresta de Sambisa, perto da fronteira oeste da Nigéria com os Camarões. A ofensiva começou na quarta-feira mas, nesta quinta, as forças pró-governamentais retiraram-se depois de terem alcançado um campo armadilhado e de uma mina ter matado três combatentes.

Os extremistas do Boko Haram têm uma forte presença em Sambisa e, por essa razão, a floresta tem sido alvo de vários bombardeamentos desde Fevereiro, mês em que a Nigéria se aliou aos Camarões, Chade e Niger e, juntos, formaram uma coligação contra os extremistas.

A ofensiva de quarta-feira avançou também com apoio aéreo, mas a presença de minas no terreno foi sempre uma preocupação para o exército nigeriano. Na quarta-feira, lançou um comunicado em que afirmava que estava a avançar na floresta, mas enfrentava “obstáculos e minas colocadas pelos terroristas”.

Nesta quinta-feira, a morte de três combatentes pró-governamentais precipitou a retirada. “Os soldados fizeram uma retirada para Bama [a norte de Sambisa] por causa das minas”, disse uma fonte do exército nigeriano à Reuters. “Três dos nossos rapazes foram mortos por uma mina à medida que progredíamos em Sambisa”, explicou à agência Muhammad Mungonu, um dos voluntários que combate com as forças do Governo nigeriano.

Mas este não será o fim da ofensiva sobre Sambisa. A floresta é um dos mais importantes objectivos da ofensiva contra o Boko Haram e o facto de o exército nigeriano ter conseguido avançar contra o bastião dos islamistas, mesmo que só por um dia, é um sinal de que pode estar para breve o último avanço sobre o Boko Haram.

De acordo com um responsável do exército do Chade à Reuters, a coligação deve montar uma ofensiva conjunta sobre a floresta já para a semana. Forças do exército do Chade estão a concentrar-se no Norte dos Camarões. Os três exércitos devem tentar penetrar na floresta por várias frentes. 

Boko Haram em dificuldades
Desde Fevereiro que o Boko Haram tem vindo a perder território frente à coligação de países africanos. Têm-se também repetido relatos de que o grupo está a ficar sem armas e munições e a ofensiva desta quarta-feira matou um dos líderes jihadistas, de acordo com as informações transmitidas por Mike Omeri, o porta-voz do Governo nigeriano, à revista norte-americana Newsweek.

Mike Omeri falou com a Newsweek nesta quinta-feira e assegurou que o exército continuava a avançar em Sambisa. Mais tarde, contudo, a Reuters deu a notícia da retirada das forças pró-governamentais da floresta face à ameaça do campo minado. Em todo o caso, Omeri repete a tese do enfraquecimento dos islamistas. “Derrotámos as suas capacidades e a maior parte dos seus campos”, disse o porta-voz do Governo de Goodluck Jonathan à revista.

A coligação foi capaz de reconquistar partes importantes de terreno ao Boko Haram. Aliás, os extremistas, que em Março declararam fidelidade ao autoproclamado Estado Islâmico, já não controlam nenhum centro urbano. Mas a vitória ainda pode tardar, segundo o correspondente da BBC para a segurança em África, Tomi Oladipo. É que a floresta de Sambisa é a área mais vasta de terreno que até ao momento foi disputada entre a coligação e o Boko Haram.

Goodluck Jonathan está de saída da presidência da Nigéria. No final de Maio, entregará o poder a Muhammadu Buhari, o vencedor das eleições de Março. A campanha eleitoral de ambos foi organizada em torno do tema Boko Haram e, agora, Jonathan diz que quer derrotar o grupo islamista antes de entregar o poder ao seu sucessor.

Para além de ser o último bastião do Boko Haram, a floresta de Sambisa poderá ser também a última possibilidade para que sejam resgatadas as mais de 200 raparigas sequestradas há um ano pelos jihadistas. Mohamed Ibn Chambas, representante das Nações Unidas para o leste de África, sugeriu à Al-Jazira que os extremistas possam estar a utilizar as raparigas raptadas como escudo humano em Sambisa, embora os voos de reconhecimento sobre a floresta não tenham registado nenhum indício da presença das raparigas sequestradas. 

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