PP tenta usar detenção de Rato para mostrar resultados da luta anticorrupção

Nas suas primeiras declarações, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, aproveitou para comentar que o seu Governo fez sua a “batalha” contra qualquer tipo de fraude, luta que, diz, teve nos últimos anos “os melhores resultados".

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Rato foi detido em sua casa na quinta-feira à noite Javier Soriano/AFP

Em super-ano eleitoral, um partido no Governo vê detida uma das suas mais relevantes figuras por corrupção, quando a corrupção surge sistematicamente no topo das maiores preocupações dos cidadãos do país. O que faz? Distancia-se do detido, com que já tinha começado o corte, sublinha que a justiça é igual para todos e finalmente, tenta apresentar a investigação como o coroar de sucesso das suas próprias políticas anticorrupção.

Parece ter sido esta a linha do Executivo de Mariano Rajoy perante a detenção de Rodrigo Rato, uma das figuras de topo entre os conservadores espanhóis, que foi ministro das Finanças de José Maria Aznar, vice-primeiro-ministro, director-geral do FMI, e finalmente director do Bankia, um dos maiores bancos espanhóis.

“Aparentemente, o Partido Popular está preocupado com as consequências num ano cheio de consequências eleitorais”, diz o diário espanhol El País em editorial. “Mas fica a sensação de que o Governo manobra para se distanciar de Rato e ao mesmo tempo controlar os efeitos do novo escândalo.

Nas suas primeiras declarações após ser conhecida a detenção de Rato, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, aproveitou para comentar que o seu Governo fez sua a “batalha” contra qualquer tipo de fraude, “sem estar a fazer juízos prévios sobre nada”. Esta luta teve nos últimos anos “os melhores resultados, e com grande diferença, da História” de Espanha, congratulou-se o primeiro-ministro, apontando que o organismo responsável pelas investigações fiscais “tem e terá sempre pleno apoio da parte do Governo”, que “garantirá a independência” de organismos como este, prometeu.

“Todos os espanhóis são exactamente iguais perante a lei”, declarou ainda Rajoy. “É igual o relevo social ou político ou económico” dos investigados, disse pelo seu lado o ministro das Finanças, Cristóbal Montoro.

Figuras do PP notaram ainda que o que motivou a detenção de Rodrigo Rato (que continua a ser investigado mas foi entretanto libertado) foram suspeitas em relação à sua riqueza pessoal e não qualquer acção sua enquanto deteve cargos públicos. O porta-voz do PP no Parlamento Europeu, Estebán González Pons, disse que o seu partido está “em estado de choque”. Mas, acrescentou, “tudo o que sabemos não está relacionado com a sua actuação no Governo”.

Pons opinou ainda que há que dar crédito ao PP por permitir a investigação num ano de permanente campanha eleitoral - às eleições autonómicas na Andaluzia, em Março, vão seguir-se, em Maio, mais autonómicas e municipais, em Setembro as regiões catalães e, por fim, em Novembro ou Dezembro, as legislativas.“Se um partido como o PP não põe nenhum obstáculo a que um ícone como Rodrigo Rato passe pelo que passou, algum crédito tem de ter.”

O PP já tinha começado um corte com Rodrigo Rato em Outubro. O responsável enfrentava duas investigações distintas por suspeitas relativas ao seu tempo à frente do Bankia – uma sobre a utilização de cartões de crédito do banco para despesas pessoais, outra de irregularidades na entrada do banco em bolsa, em 2012. O Bankia foi resgatado pelo Estado espanhol nesse ano, o que levou a um grande aumento da dívida pública e a um plano europeu de ajuda da zona euro à banca espanhola.

 

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